Monday, October 31, 2005

Do 'Pico do Petróleo' para a 'Transição Um'

por Ali Samsan Bakhtiari *



Na minha humilde opinião, por esta altura já chegámos ao 'Pico do Petróleo'. É pois tempo de fechar este crítico capítulo na historia da indústria internacional de petróleo e dizer um grande adeus ao 'Pico'.

Presentemente a produção global de petróleo flutua á volta dos 82 milhões de barris de por dia (mb/d), enquanto algumas instituições tentam em vão empurrar as estatísticas de 2005 para 83 e 84 md/d (tal como sempre fazem). Mas serão obrigados a rever os números quando a produção 'efectiva' não acompanhar a sua produção no 'papel'.

Na ressaca do 'Pico do Petróleo' estamos prestes a entrar naquilo a que chamo 'Transição Um' [T1] - uma fase algo bizarra, propícia a uma vaga 'terra de ninguém' entre uma produção de petróleo adequada e a clara evidência de que a procura deixou definitivamenta a produção para trás. Vejo o trágico 'Tsunami de 2004' e os doloroso 'Katrina e Rita de 2005' como os sinais percursores do 'T1'. Esta nova fase pode rebentar no palco global durante o próximo Inverno de 2005-2006 - apanhando talvez grande parte do público de surpresa.

Felizmente, a vantagem oculta do 'T1' é que a produção global de petróleo se manterá constante durante esta fase inicial, permitindo que aqueles com clarividência, inteligência e agilidade se prepararem para o seguinte, as fase mais torbulentas: 'T2', 'T3', ...

Daqui para a frente 'preparação' será o nome do jogo. Avanço agora com a minha primeira lista de ' afazeres' resumida nos 'Cinco R':

(1) RE-PROGRAMAR: primeiro e antes de tudo, re-programar 'a mente'; simplesmente abandonar o 'negócio-como-de-costume' [bussiness-as-usual] e outros cenários optimistas semelhantes (nada se manterá com de 'costume'); utilizar tanto quanto possível o 'pensamento lateral' (vide o super-guru 'Edward de Bono'); pensar não só no 'Plano B', mas também nos Planos 'C', 'D', e 'E'; começar também a 'Pensar o Impensável' e a 'Esperar o Inesperado'. (Vi recentemente uma fotografia do 'greater Phoenix' [megapólis do Arizona] á noite que me provocou arrepios na espinha com o seu 'mar de luzes' (enquanto imaginava o ar condicionado oculto e sussurrante) para um aglomerado urbano de 163 Km por 173 Km (nada menos que 28 200 Km2 !) albergando 4 milhões de pessoas - com um crescimento diário de 500 habitantes!).

(2) REDUZIR: primeiro cortar sem misericórdia o desperdício: os habituais 30% devem ser cortados á partida; comprimir o nível de dívida o mais possível (o 'T1' trará inveitavelmente mais inflacção); reduzir as viagens de todo o tipo para economizar os combustíveis cada vez mais preciosos (optimizar o uso da Internet); gradualmente reduzir todos os tipos de consumo (emagrecer e preparar cortes maiores); revêr os sistemas de iluminação e aquecimento caseiros (investindo o necessário, enquanto for inferior aos custos operacionais anuais); reduzir o tamanho e número de carros o mais rápido possível. (Conheci uma família australiana que vive nos subúrbios e que tem cinco carros - um para cada membro da família. Contei-lhes acerca da chegada do 'Pico do Petróleo'; ficaram siderados, perguntando o que fazer perante o disparo dos preços? Bem, respondi: "Podem facilmente ver-se livres de dois carros, sem grande sacrifício, apenas com um pouco de planeamento, cortando as vossas despesas com os carros em dois quintos duma só vez, sem contar com a poupança no combustível.").

(3) REUTILIZAR: há tantas coisas que são facilmente reutilizáveis, um pouco de atenção pode ter um grande efeito: desde sacos de plástico; recauchutar pneus; o mais importante pode ser a 'água' inócua, que está destina a uma redução de abastecimento; a 'madeira' também. (A filosofia de 'reutilizar' requer uma nova forma de pensar pois ninguém está habituado a fazê-lo).

(4) RECICLAR: o grande crescimento industrial do amanhã será a industria da 'reciclagem'; a reciclagem dos resíduos domésticos deveria ser obrigatória (tal como na Alemanha e num punhado de cidades dos EUA como Seattle e Pittsburgh); muito do que se 'deita fora' hoje pode ser 'reciclado'; eventualmente muitos produtos serão fabricados com o intuito de mais tarde serem reciclados. (A reciclagem de carros deve ter prioridade máxima, dado que enormes benefícios podem daí advir).

(5) RECOMPENSAR: recompensar toda a acção massiva para reduzir, reutilizar e reciclar; é melhor usar subsídios 'positivos' em vez de 'negativos'. (Um exemplo seria recompensar os 19 milhões de americanos que compraram um bicicleta nos últimos 12 meses).

Com as minhas maiores felicidades para a 'Transição Um'...

*Ali Samsan Bakhtiari é doutorado em engenharia quimíca e especialista superior-adjunto no escritório do director no departamento de planificação empresarial da companhia petrolífera nacional iraniana (Fonte: CrisisEnergética.org). Foi dos primeiros especialistas petrolíferos a fazer previsões de escalada dos preços do petróleo no início deste século e sempre acertou. A sua última previsão é de uma subida até 125 dólares o barril antes do final desta década.

Ver também a entrevista no sítio espanhol "Crisis Energética".

Saturday, October 29, 2005

Life After The Oil Crash

"Deal with Reality, or Reality will Deal with You"

por Matt Savinar



Parte 1: "Peak Oil" e as Ramificações na Civilização Industrial



1. O que é o "Peak Oil"?

Toda a produção de petróleo segue uma curva em forma de sino (curva de Hubbert), seja num campo individual ou no planeta como um todo. Na parte ascendente da curva os custos de produção são significativamente mais baixos do que na parte descendente, quando é necessário um maior esforço (despesa) para extrair petróleo de poços que estão a ficar vazios. Para simplificar: o petróleo é abundante e barato na curva ascendente, escasso e caro na curva descendente. O pico da curva coincide com o ponto em que as reservas mundiais de petróleo estão consumidas em 50%. "Peak Oil" é o termo da indústria para o topo da curva. Uma vez passado o pico, a produção de petróleo começa a decair enquanto os custos começam a subir.

Em termos práticos e bastante simplificados isto significa que, se 2000 foi o ano do "Peak Oil", a produção mundial de petróleo no ano 2020 será a mesma de 1980.

Contudo, a população mundial em 2020 será muito maior (aproximadamente o dobro) e muito mais industrializada do que era em 1980. Consequentemente, a procura mundial de petróleo ultrapassará a sua produção por uma margem significativa. Quanto mais a procura exceder a produção, mais alto será o preço. Em última análise, a questão não é "Quando acabará o petróleo?", mas sim "Quando acabará o petróleo barato?"



2. Quando ocorrerá o "Peak Oil"?

As estatísticas mais optimistas indicam que se atingirá o pico da produção petrolífera entre os anos de 2020 a 2035. Normalmente, estas estimativas vêm de agências governamentais como o Observatório Geológico dos Estados Unidos, das companhias de petróleo, ou de economistas que não consideram a dinâmica do esgotamento de recursos. Mesmo que os optimistas estivessem certos, estaríamos a raspar no fundo do barril de petróleo ainda durante o período de vida da maioria das pessoas que estão hoje na meia-idade.

Uma estimativa mais realista cai entre os anos de 2004 a 2010. Infelizmente, nós não saberemos se o pico foi atingido antes de se passarem 3 ou 4 anos após o facto. Mesmo na parte ascendente da curva, a produção de petróleo varia um pouco de ano para ano. É possível que a produção mundial de petróleo tenha atingido um máximo no ano 2000, porque tem descido a cada ano que se passou. A indústria da energia reconheceu serenamente a gravidade da situação. Por exemplo, num artigo recentemente colocado na página da Exxon-Mobil Exploration, o presidente da empresa, Jon Thompson, declarou:

Até 2015, teremos de encontrar, desenvolver e produzir um adicional de petróleo e gás equivalente a 8 em cada 10 barris que são produzidos actualmente. Espera-se também que o custo associado ao fornecimento acrescido deste petróleo e gás seja considerávelmente superior ao que a indústria despende actualmente.

Igualmente assustador é o facto da maioria das prospecções mais prometedoras se situarem longe dos grandes mercados -- algumas em regiões onde faltam mesmo as infraestruturas básicas. Outras em climas extremos, como no Ártico, colocam extraordinários desafios técnicos.

Se Jon Thompson é tão sincero num artigo colocado no sítio da Exxon-Mobile, poderemos imaginar o que por lá se diz à porta fechada. Os Sauditas não são menos sinceros que Jon Thompson quando discutem o colapso iminente da civilização baseada no petróleo. Eles têm um ditado que diz "O meu pai andava de camelo. Eu ando de carro. O meu filho anda de avião. O filho dele vai andar de camelo". Como se pode ver pelos gráficos que ilustram este artigo, os Sauditas não estão a exagerar.



3. Não importa. Se a gasolina subir muito, eu compartilho o carro, ou arranjo um desses carros híbridos. Porque havia de me preocupar?

Quase toda a actividade humana, desde os transportes, as fábricas, a electricidade, aos plásticos, e especialmente à produção de alimentos e água está profundamente ligada ao fornecimento do petróleo e gás natural.

A. O petróleo e a produção alimentar

Nos EUA, são necessárias aproximadamente 10 calorias de combustível fóssil para produzir 1 caloria de comida. Se a embalagem e transporte forem factores da equação, a proporção sobe consideravelmente. Esta disparidade tem sido permitida pela abundância de petróleo barato. A maioria dos pesticidas é obtida a partir do petróleo, e todos os fertilizantes comerciais são baseados no amoníaco. O amoníaco é produzido a partir do gás natural, um combustível fóssil sujeito a um perfil de esgotamento semelhante ao do petróleo. O petróleo permitiu a existência de ferramentas agrícolas como os tractores, sistemas de armazenamento de alimentos como as câmaras frigoríficas, e os sistemas de transporte de mantimentos como os camiões de distribuição. A agricultura baseada no petróleo é o factor principal que levou ao aumento em flecha da população mundial, de 1.000 milhões em meados do séc. XIX até aos 6.300 milhões no virar do séc. XXI. Enquanto a produção petrolífera subiu, subiu igualmente a produção alimentar. Enquanto a produção alimentar subiu, subiu igualmente a população. Enquanto a população subiu, subiu também a procura de alimentos, o que levou ao aumento da procura do petróleo.

No espaço de poucos anos após ocorrer o "Peak Oil", o preço dos alimentos vai disparar, tal como os preços de produção, armazenamento, transporte e embalagem, que também terão de subir.

Para mais informação sobre petróleo e produção alimentar, podem ler os seguintes artigos (em inglês):

1. "Eating Fossil Fuels" de Dale Allen Pfeiffer

2. "The Oil We Eat" de Richard Manning

B. O petróleo e o fornecimento de água

O petróleo também é necessário para a distribuição da quase totalidade da nossa água potável. O petróleo é usado para construir e conservar aquedutos, barragens, canalizações, poços, bem como para bombear a água que chega às nossas torneiras. Tal como com os mantimentos, o custo da água potável vai subir com a subida do preço do petróleo.

C. O petróleo e a saúde

O petróleo é largamente responsável pelos avanços efectuados pela medicina nos últimos 150 anos. O petróleo permitiu o fabrico em massa das drogas farmacêuticas, do equipamento cirúrgico e o desenvolvimento de infraestruturas de saúde pública como os hospitais, as ambulâncias, as estradas, etc..

D. O petróleo e tudo o resto

O petróleo é também necessário para quase todos os aspectos do consumo, desde os sistemas de esgotos, tratamento de lixos, manutenção de estradas, polícia, serviços de bombeiros e a defesa nacional. Por isso, as consequências do "Peak Oil" terão efeitos muito além do preço da gasolina. Dito de um modo simplificado, podemos esperar: o colapso económico, a guerra, a fome generalizada, e um decréscimo maciço da população mundial.



4. O que quer dizer com "decréscimo maciço"?


Exactamente isso. Calcula-se que a população mundial se contrairá durante a Quebra do Petróleo, até se situar entre 500 milhões e 2.000 milhões. (A população actual é de 6.400 milhões)



5. Está a falar a sério? Isso é cerca de 90% da nossa população actual. Como podem perecer tantas pessoas? De onde vêm essas estimativas?

A estimativa vem de biólogos que estudaram o que sucede com os seres vivos quando se esgota um recurso fundamental do seu meio ambiente. Os resultados são os mesmos, quer se trate de bactérias numa cultura ou seres humanos numa ilha.

Exemplo A: A Bactéria

A bactéria de uma cultura crescerá exponencialmente até se acabarem os recursos, um ponto em que a sua população sofrerá uma quebra. Apenas uma geração antes da quebra, a bactéria terá utilizado metade dos recursos disponíveis. Para a bactéria, não existirá qualquer indício de problemas até começar a morrer à fome. Antes disso acontecer, a bactéria começará a canibalizar-se antes de lutar até à última pela sobrevivência.

Mas os humanos são mais inteligentes que as bactérias, não é? Poderíamos pensar que sim, mas os factos indicam o contrário. O primeiro poço de petróleo explorado comercialmente foi aberto em 1859. Nessa época, a população mundial era cerca de mil milhões. Menos de 150 anos depois, a nossa população disparou para os 6.400 milhões. Nesse período, utilizámos metade do petróleo explorável existente no mundo. A metade que resta custará mais caro extraí-la. Se os peritos estiverem correctos, estamos a menos de uma geração de distância da Quebra. Apesar disso, para muitos de nós parece não existir qualquer indício de problemas. A uma geração de distância do nosso perecimento, estamos tão alheios como as bactérias numa cultura.

Exemplo B: A Ilha da Páscoa

No decurso da nossa História, muitas populações humanas sofreram decréscimos maciços. O exemplo mais próximo da nossa situação actual foi o que teve lugar na Ilha da Páscoa durante o início do séc. XVIII. A Ilha da Páscoa foi descoberta pela civilização ocidental em 1722, quando o explorador holandês Jacob Roggeveen desembarcou na ilha. Na época, Roggeveen descreveu a ilha como uma terra desolada. Os ilhéus que ele encontrou levavam uma existência particularmente primitiva, mesmo pelos padrões do séc. XVIII. Na ilha não existia madeira para queimar, havia poucas espécies de plantas, e não existiam animais nativos maiores que insectos. Os ilhéus não conheciam a roda, não tinham animais de tiro, possuíam poucos utensílios e só 3 ou 4 canoas estragadas e a meter água.

Apesar da aridez existente, a Ilha da Páscoa estava povoada com enormes estátuas de pedra, de construção elaborada. Roggeveen e a sua tripulação ficaram completamente perplexos com as estátuas, porque era claro que quem as tinha construído possuia utensílios, recursos e capacidade organizacional bem mais avançada que os ilhéus que eles encontraram. O que teria acontecido a este povo?

Segundo os arqueólogos, a Ilha da Páscoa foi inicialmente colonizada por Polinésios cerca do ano 500 DC. Nessa altura, a ilha era um paraíso primordial com florestas luxuriantes. Sob estas condições, a população da ilha cresceu até aos 20.000 habitantes. Durante este florescimento populacional, os ilhéus usaram a madeira das florestas como a energia de suporte para praticamente todos as vertentes de uma sociedade altamente complexa. Utilizaram a madeira para combustível, canoas e casas -- e, claro, para transportar as enormes estátuas. A cada ano que passava, os ilhéus tiveram de cortar mais e mais árvores à medida que as estátuas se tornavam cada vez maiores.

Quando as árvores desapareceram, os ilhéus ficaram sem madeira e cordas para transportar e erigir as estátuas; as fontes e as correntes de água secaram, e a madeira para combustível acabou. O fornecimento de comida também diminuiu à medida que desapareceram as aves terrestres, os muluscos maiores e as aves marinhas. Quando os troncos para construir canoas deixaram de existir, a pesca declinou e o peixe deixou de fazer parte da ementa. Quando o fornecimento de comida diminuiu consideravelmente, os ilhéus recorreram ao canibalismo para se sustentarem. A prática tornou-se tão vulgar que eles tinham um insulto que dizia: "A carne da tua mãe enfiou-se entre os meus dentes".

Em pouco tempo o caos substituiu o governo centralizado, e uma classe de guerreiros derrubou os chefes hereditários. Por volta de 1700, a população começou a decrescer até restar entre 0,25 a 0,10 do número original. As pessoas começaram a viver em cavernas para melhor protecção dos seus inimigos e as estátuas foram derrubadas em guerras de clãs. A Ilha da Páscoa, em tempos a morada de uma sociedade complexa, tornara-se uma terra barbarizada.

Tal como Jared Diamond, Professor de Medicina na UCLA, explicou:

A Ilha da Páscoa apresenta-se-nos hoje como uma metáfora: isolada no meio do Oceano Pacífico, sem ninguém para a ajudar, sem nenhum local para onde fugir, a Ilha da Páscoa entrou em colapso. Do mesmo modo, podemos olhar para o Planeta Terra no meio da galáxia e, se também nós tivermos sarilhos, não há outro local para onde fugir, nem outro povo a quem possamos pedir ajuda.



6. Ainda não consigo imaginar esse número de mortos. É demasiado horrível para pensar. Só 10% de nós vai safar-se? Como é que isso é possível?

Eu sei como você se sente. É muito difícil lidar com isto, tanto emocional como intelectualmente. Como Michael Meacher, antigo ministro do ambiente do Reino Unido, declarou recentemente, "É difícil encarar os efeitos, na economia moderna ou na sociedade, de uma redução radical no fornecimento do petróleo. As implicações são avassaladoras". Talvez a explicação seguinte, embora consideravelmente simplificada, ajude a ilustrar o futuro para o qual caminhamos.

Como foi explicado acima, a produção mundial do petróleo segue uma curva em forma de sino. Por isso, se 2000 foi o ano do pico de produção, significa que no ano 2025 a produção de petróleo será aproximadamente a mesma que se efectuou no ano 1975. A população para o ano 2025 calcula-se, em números redondos, nos 8.000 milhões. A população em 1975 era de aproximadamente 4.000 milhões. Dado que a produção de petróleo equivale no essencial à produção de alimentos, isto significa que teremos 8.000 milhões de pessoas no planeta, mas comida para apenas 4.000 milhões.

Com isto presente, imagine a seguinte situação: você, eu e mais 6 pessoas, estávamos fechados numa sala, com comida para apenas 4 pessoas. Pelo menos metade de nós morreria de fome. Mais um ou dois provavelmente morreria a disputar a pouca comida que temos. Isto é o que aconteceria se as pessoas lutassem com os punhos. Se nos dessem armas, imagine como ficaria aquela sala...



7. Parece claro que temos um verdadeiro problema, mas você está a descrever o pior cenário possível, não é?

Estou a descrever o cenário mais provável. O pior cenário é a extinção, porque as guerras que vão acompanhar a escassez do petróleo serão provavelmente as mais terríveis e generalizadas que a humanidade alguma vez atravessou. Discutiremos isto com mais pormenor na Parte 4.



8. Onde é que você foi buscar esta informação? Quem mais está a falar acerca do "Peak Oil"? Que antecedentes é que eles possuem? Como é que eu sei que eles são credíveis, e não uns doidos?

Quando você acabar de ler estes textos, aconselho-o a ir ao Google e procurar o termo "Peak Oil". Você encontrará para sua consternação, tal como eu, que tudo o que leu neste sítio é suportado por factos palpáveis, relatados por fontes altamente respeitadas. Tem aqui alguns links para começar:

A. Dr. David Goodstein, Professor de Física e Vice-Reitor da Universidade Cal Tech

*ABC News, entrevista com Goodstein

B. Matthew Simmons, Conselheiro para a Energia de George Bush

*Agosto de 2003, entrevista com Simmons

*Simmons, Fevereiro de 2004: Apresentação completa em Power Point sobre o "Peak Oil"

*Índice completo dos ensaios de Simmons sobre o "Peak Oil" e temas relacionados

C. Dr. Colin Campbell, antigo Geólogo de Exploração da Texaco, Geólogo-Chefe do Equador, e fundador da Associação para o Estudo do "Peak Oil" e do Gás

*Mais de 35 "newsletters" sobre o "Peak Oil" pelo Dr. Campbell

*Mais de 15 artigos sobre o "Peak Oil" pelo Dr. Campbell

D. Artigos nas principais publicações noticiosas

*Mais de 50 artigos de publicações como The San Francisco Chronicle, The Los Angeles Times, Barrons, New York Times, Newsweek, The Financial Times, The Washington Post, Business Week, etc. (clicar em "Articles")



9. Será possível termos já atingido o "Peak Oil" e que estejamos agora nas primeiras fases da Quebra do Petróleo?

Sim. Existe uma grande evidência de que já entrámos na quebra.

A. Declínio da produção petrolífera

Em Maio de 2003, na Conferência do "Peak Oil" em Paris, Kenneth Deffeyes, Professor de Princeton e autor de "O Pico de Hubbert: A Iminente Crise Mundial do Petróleo", explicou que o "Peak Oil" se deu em 2000 notando que a produção tem de facto declinado desde essa data.

B. Estimativas drasticamente revistas sobre as reservas de petróleo e gás natural

Em Outubro de 2003, a CNN Internacional noticiou que uma equipa de investigação da Universidade de Uppsala, na Suécia, tinha concluído que as reservas mundiais de petróleo eram 80% abaixo do que se calculava, que a produção mundial de petróleo atingiria o pico dentro dos próximos 10 anos, e que, após o pico da produção, os preços da gasolina atingiriam níveis desastrosos. Em Janeiro de 2004 as acções das principais companhias petrolíferas caíram, após a Royal Dutch/Shell Group ter abalado os seus investidores ao cortar as suas reservas "demonstradas" em 20%, levantando preocupações sobre as outras companhias, se teriam também avaliado incorrectamente a sua parte. Um mês depois, a companhia energética El Paso Corporation anunciou que tinha de cortar as suas reservas demonstradas de gás natural em 41%.

C. O alto preço do petróleo e da gasolina

Em Março de 2004, o preço do petróleo atingiu 38 dólares o barril, o mais alto desde 1991. O preço médio do galão de gasolina (aprox. 3,8 litros) atingiu nos EUA um recorde de 1,77 dólares, e em algumas zonas chegava aos 2,40. Muitos analistas previram que o preço da gasolina excederá os 3,50 dólares por galão no Verão de 2004.

D. Valores altos de desemprego

Podemos pensar no "Pico de Produção Petrolífera" como um sinónimo para "Pico na Criação de Emprego". Em Dezembro de 2003, o desemprego "ajustado", que foi espremido até ao limite do concebível, ficou ainda assim nos 6%. Contudo, se for considerado o factor de qualidade de emprego, os números reais andam pelos 12 a 15%. Em Março de 2004, a economia norte-americana está a criar apenas 21.000 empregos por mês, 20.000 dos quais são criados pelo governo. Precisamos, contudo, de criar mais de 200.000 novos empregos por mês apenas para acompanhar o aumento da população. Criar novos empregos é praticamente impossível, agora que a produção de petróleo atingiu o pico. Sem um aumento no fornecimento de energia a economia não consegue crescer, e os empregos não podem ser criados. Isto significa que, nos próximos anos, veremos mais casamentos "gay" do que novos empregos serem criados.

E. Apagões

Os sucessivos apagões que aconteceram na Califórnia nos finais de 2000, o enorme apagão da Costa Leste em Agosto de 2003 e vários outros apagões maciços que ocorreram nos finais do Verão de 2003 são simplesmente um sinal das coisas que virão.

F. Redução de alimentos e da produção química

A produção mundial de cereais tem caído de ano para ano, desde 1996-1997. A produção mundial de trigo tem caído de ano para ano, desde 1997-1998. Na China, as recentes oscilações no preço dos alimentos, podem ser sinais da aproximação de uma crise mundial na alimentação, provocada pelo aquecimento global e por uma escassez crescente no abastecimento de água aos maiores produtores de cereais. Nos EUA, um quarto das fábricas de fertilizantes fechou definitivamente durante o ano passado; outro quarto ficou parado até os preços do gás natural recuarem, após uma subida súbita. (Ver Richard Heinberg, "Actualização, Petróleo e Gás ", Museletter Number 142, Janeiro 2004)

G. Conclusão

O declínio na produção petrolífera, a redução nas estimativas das reservas de gás e petróleo, o desemprego com valores altos e crónicos, os apagões em larga escala, a redução nos fornecimentos alimentares e químicos -- se olharmos isoladamente para cada uma destas peças de evidência, elas não dirão muito sobre a situção em que se encontra o mundo. Contudo, quando as vemos agrupadas no contexto do "Peak Oil", o facto de estarmos já em queda torna-se óbvio.



10. E quanto aos chamados recursos petrolíferos "não-convencionais"? O Canadá não possui uma enorme quantidade deste tipo de petróleo?

O chamado petróleo "não-convencional", como as areias de petróleo encontradas no Canadá e na Venezuela, é incapaz de substituir o petróleo convencional, pelas seguintes razões:

A. O petróleo não-convencional tem uma Relação de Aproveitamento Energético muito baixa e é extremamente difícil de produzir. É necessário investir em energia cerca de 2 barris de petróleo para produzir, a partir destes recursos, 3 barris de petróleo equivalente. O custo dos projectos petrolíferos não-convencionais canadianos é tão elevado que, em Maio de 2003, a publicação "Rigzone", ligada à indústria petrolífera, sugeria: "O Presidente Bush, conhecido pela sua fé religiosa, devia rezar todas as noites para que a Petro-Canada, e outras empresas ligadas às areias de petróleo, encontrassem meios para cortar nas despesas e aumentar a segurança energética dos EUA".

B. Os custos ambientais são terríveis e o processo utiliza uma imensidão de água potável e também gás natural, e ambos existem em quantidades limitadas.

C. Embora o petróleo não-convencional seja abundante, o seu ritmo de extracção é demasiado lento para responder ao grande aumento global da procura de energia. O Dr. Colin Campbell calcula que a capacidade conjunta do Canadá e da Venezuela na área do petróleo não-convencional, daria uns 2,8 milhões de barris diários (mbd) em 2005, 3,6 mbd em 2012, e 4,6 mbd em 2020. Isto são gotas no balde, dado o actual consumo de 75 mbd, que se espera vir a aumentar até 120 mbd em 2020.



11. Acabei de ler um artigo que afirma continuarem a aumentar as reservas conhecidas de petróleo. O que é que diz a isto?

Nos últimos anos, o USGS e o EIA reviram as suas estimativas das reservas de petróleo em alta. Isto levou muitos observadores e comentadores a aacreditar que a possibilidade de uma severa escassez de petróleo era coisa do passado.

Enquanto os relatórios do USGS (Observatório Geológico dos EU) e do EIA (Administração da Informação Energética) sobre a produção no passado são bastante fidedignos, as suas predições para o futuro são em grande parte propaganda. Eles próprios o admitem. Por exemplo, após recentes revisões em alta nas projecções para o fornecimento do petróleo, o EIA declarou: "Estes ajustamentos às estimativas são baseados em considerações não-técnicas, que sustentam o crescimento da oferta interna até aos níveis necessários para responder aos níveis de procura projectados".

Por outras palavras, eles preveem quanto acham que vamos utilizar, e depois dizem-nos: "Vejam, não há motivos de preocupação -- para isso nós temos!"



12. Será possível existir ainda mais petróleo por descobrir?


Quase de certeza que não. Todas as evidências indicam que já localizámos a maioria das reservas mundiais de petróleo.

A. Os maiores campos petrolíferos do mundo têm todos mais de 40 anos

Segundo um relatório recente da Escola Mineralógica do Colorado, intitulado "Os Campos de Petróleo Gigantes no Mundo", os 120 maiores campos produzem quase 50% do crude mundial. Os 14 maiores são responsáveis por mais de 20%. A idade média destes 14 maiores é de 45,5 anos. As reservas, nos campos de petróleo super-gigantes e gigantes, estão a diminuir à razão de 4 a 6% ao ano. O estudo conclui que "a maioria dos verdadeiros gigantes mundiais já foi encontrada há várias décadas".

B. A "Mainland" norte-americana como um exemplo

Se você ainda não está convencido de que já não existem mais (ou pelo menos sobram muito poucos) grandes campos de petróleo por descobrir, considere o exemplo do que aconteceu nos EUA. Nos EUA nós pesquisámos e extraímos petróleo há mais tempo do que em qualquer outro lugar, desde 1859, e temos maior força financeira e tecnológica do que quaisquer outros. Se alguém conseguisse contornar o declínio petrolífero, teríamos sido nós. A produção de petróleo nos EUA atingiu o pico em 1970 e tem caído consistentemente desde então. Apesar dos máximos incentivos financeiros, da tecnologia mais sofisticada do mundo, e de uma abertura completa à inovação, os EUA foram incapazes de abrandar, muito menos de inverter, este declínio na produção de 2% ao ano. Trinta e cinco anos de dinheiro e de investigação não abrandaram nem inverteram o declínio; porque é que no resto do mundo havia de ser diferente? O facto é que no resto do mundo não vai ser diferente.



13. O Clube de Roma não fez a mesma previsão nos anos 70?


Frequentemente, sempre que alguém faz uma previsão tipo "fim do mundo", é escarnecido como "clubista de Roma". Isto é uma posição extremamente infeliz, porque afinal o CdR parecia estar correcto. Quem o diz? Nada menos que Matthew Simmons, que declarou em 2000: "Em retrospectiva o CdR demonstrou estar correcto. Nós simplesmente desperdiçámos 30 anos importantes ao ignorar o seu trabalho."



14. Tivémos problemas com o petróleo nos anos 70. Porque é que agora é diferente?

A escassez de petróleo dos anos 70 foi consequência de acontecimentos políticos. A próxima escassez de petróleo vai resultar da realidade geológica. Pode-se negociar com os políticos. Pode-se ameaçar, bloquear ou invadir os países do Médio Oriente. Não se pode fazer nada à Terra.

No que respeita ao fornecimento de petróleo aos EUA, existiam nos anos 70 outros países produtores, "desalinhados", como a Venezuela, que puderam preencher as falhas no abastecimento. Após a produção mundial atingir o pico, não vão existir quaisquer produtores "desalinhados" que possam suprir a falha.

Os choques petrolíferos dos anos 70, foram um pouco como as vibrações que precedem um terramoto. A crise que se aproxima é provocada por escassez de recursos, e não por política -- embora, claro, a política faça parte dela.

Não é uma interrupção temporária, mas o início de uma condição nova e permanente. Os sinais de aviso já se fazem sentir há muito tempo. Eles têm sido bem visíveis, mas o mundo tornou-se cego e não conseguiu entender a mensagem.

No futuro, comparar as falhas de petróleo do anos 70 com a Quebra do Petróleo de 2005-2050, será como comparar uma amolgadela no pára-choques com uma violenta colisão frontal.



15. Então temos novamente um "fim do mundo". O que é que isso tem de novo? O "bug do ano 2000" era suposto ter sido o fim do mundo, e acabou por dar em nada.


O que há de novo é que isto é bem real. Não é uma simulação de acidente, não é histeria paranóica. É um facto real. O Conselheiro para a Energia de George W. Bush, Matthew Simmons, referiu-se a este assunto na Conferência do "Peak Oil" em Paris, declarando:

Penso que é da natureza humana, gostamos realmente de ter sonhos agradáveis. Um único lobo a uivar é ignorado, a menos que ele já esteja na porta da frente, e nessa altura já é demasiado tarde para dar o alarme. E as crises não são, por definição, mais do que problemas que foram ignorados. E todas as grandes crises foram ignoradas até se tornar demasiado tarde para fazer alguma coisa.

O "Peak Oil" não é "O Regresso do Y2K". O "Peak Oil" diferencia-se dos cenários anteriores de "fim do mundo" (como o "bug do ano 2000") nos seguintes aspectos:

A. O "Peak Oil" não é um "se", mas um "quando". Mais ainda, não é um "quando nos próximos mil anos", mas um "quando nos próximos dez anos".

B. O "Peak Oil" é baseado em factos científicos e não em especulação subjectiva.

C. O governo e a indústria começaram a preparar-se para o Y2K entre 5 a 10 anos antes do problema ocorrer. Nós estamos a 10 anos do "Peak Oil" e não fizémos qualquer preparação.

D. Os preparativos necessários para o "Peak Oil" requerem uma completa verificação de todos os aspectos da nossa civilização. Isto é muito mais complexo do que corrigir um "bug" num qualquer computador.

E. Além disso, o petróleo é fundamental para a nossa existência, mais ainda que os computadores. Se as previsões do "bug do ano 2000" estivessem correctas teríamos regressado à situação de 1965. Com o passar do tempo recuperaríamos. Quando chegar a Quebra do Petróleo vamos regressar à situação de 1765. Não conseguiremos recuperar, porque não restará petróleo economicamente viável para nos ajudar a descobrir a solução do problema.



Ir para a Parte 2: Energias Alternativas: Combustíveis do Futuro ou Embustes Cruéis?


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Copyright 2003, Matthew David Savinar

http://www.lifeaftertheoilcrash.net
.

Tuesday, October 25, 2005

A VIDA QUANDO O PETRÓLEO COMEÇAR A ESCASSEAR

Este artigo trata de uma questão grave que, inexplicavelmente, se tem mantido fora das preocupações do mundo actual. A expressão-chave para este tema é "Peak Oil", uma termo de língua inglesa que descreve sucintamente a situação: a extracção petrolífera terá atingido recentemente o seu ponto máximo -- o pico -- e a partir de agora cairá inexoravelmente ao longo dos próximos anos, com todas as implicações que esse facto tem na economia e na sociedade. (Optámos por não traduzir a expressão, porque é terrivelmente eficaz nas suas sete letras, bem mais sugestiva que o seu equivalente português, "Pico de Produção Petrolífera", ou pico de Hubbert.)

O texto, apesar de abordar alguns dos assuntos sob um ponto de vista norte-americano, mantém ainda assim intacto o seu interesse já que essa realidade, salvaguardando as devidas distâncias, assume sempre as mesmas tendências quer se fale dos EUA ou de qualquer outro país ocidental.


O artigo original encontra-se no sítio Life After The Oil Crash, da autoria de Matt Savinar; o texto que se segue foi traduzido com sua autorização. Lá poderá encontrar links para explicações mais aprofundadas, com gráficos e tabelas, entrevistas completas, artigos, e ligações a outros sítios sobre a mesma temática (em língua inglesa).

Redação do sitío 30 de Fevereiro (reprodução de texto e tradução autorizadas)




Life After The Oil Crash

por Matt Savinar


A civilização tal como a conhecemos está a aproximar-se rapidamente do fim. Isto não é a conclusão de qualquer seita religiosa, mas o resultado de uma análise criteriosa, suportada por informação credível e pelos cientistas que estudam o "Peak Oil" a nível global, e os eventos geo-políticos que com ele estão relacionados.

E quem são estes profetas da desgraça que afirmam que o céu está a cair? Fanáticos da conspiração? Adeptos do Apocalipse bíblico? Pelo contrário, são alguns dos geólogos mais respeitados, mais credenciados e mais bem pagos do mundo. E é isso o mais assustador.

A situação é tão negra que até o Conselheiro para a Energia de George W. Bush, Matthew Simmons, reconheceu que "A situação é desesperada. Esta é a situação mais grave que o mundo enfrenta". Numa entrevista dada em Agosto de 2003, perguntaram a Simmons se estava na altura do "Peak Oil" se tornar parte do debate público. Ele respondeu:

É mais do que tempo. Tal como disse, os especialistas e os políticos não têm um plano de recurso. Se a energia decair, sobretudo quando 5.000 dos 6.500 milhões de habitantes do mundo dão pouca ou nenhuma utilização às novas energias, isto representará uma enorme sacudidela no nosso bem-estar económico e pessoal -- maior do que alguém possa imaginar.

Quando lhe perguntaram se existia uma solução, Simmons respondeu:

Não creio que exista. A solução é rezar. Se as coisas correrem bem, se todas as orações forem atendidas, não haverá crise durante mais dois anos, talvez. Depois disso, é uma certeza.

E não é apenas Simmons quem toca o alarme. Segundo o Secretário da Energia norte-americano Spencer Abraham, "A América está perante uma grave crise de fornecimento energético a ter lugar durante as duas próximas décadas. Não estar à altura deste desafio ameaçará a prosperidade económica da nossa nação, comprometerá a nossa segurança nacional, e alterará literalmente o nosso modo de vida".

Nas páginas que se seguem poderá encontrar uma breve explicação do "Peak Oil", as ramificações, e o que poderemos fazer naquilo que está ao nosso alcance.


Parte 1: "Peak Oil" e as Ramificações na Civilização Industrial



Parte 2: Energias Alternativas: Combustíveis do Futuro ou Embustes Cruéis?


Parte 3: Problemas de Economia, Tecnologia, e a Capacidade de Adaptação



Parte 4: "Peak Oil", Guerra e Política


Parte 5: Gerir a Catástrofe e Enfrentar as Ramificações



Copyright 2004, Matthew David Savinar

http://www.lifeaftertheoilcrash.net (versão original)

http://trintadefevereiro.planetaclix.pt/ (versão portuguesa)

Monday, October 24, 2005

GREENSPAN RECONHECE O PICO PETROLÍFERO
Alan Greenspan, presidente do banco central dos EUA, reconheceu publicamente a realidade do pico de produção petrolífera numa conferência dada em Tóquio a 17 de Outubro. Ele também considerou que doravante já não existe folga entre a oferta e a procura no mercado do petróleo, o que se reflecte no preço do barril.
"(...) a produção a partir das reservas de petróleo convencional (...) está destinada a atingir o pico", afirmou Greenspan. O presidente do Federal Reserve, que se vai reformar em Janeiro próximo, manifestou esperança no desenvolvimento de novas fontes de energia, "especialmente as fontes de petróleo não convencional". Assim, concluiu, "nós, e o resto do mundo, teremos sem dúvida de viver com as incertezas da geopolítica e de outras dos mercados petrolíferos.
O discurso de Greenspan está em:
http://www.energybulletin.net/9871.html


CHAVEZ ALERTA PARA CRISE ENERGÉTICA
O presidente venezuelano afirmou sábado em Salamanca que o mundo enfrenta uma crise energética, mas que há pouca probabilidade de o seu país e os outros membros da OPEP aumentarem a produção porque já se encontram no limiar da "sua capacidade". "O mundo terá de se habituar a um preço do barril, penso, acima dos US$50, e terá de poupar energia", declarou aos repórteres durante a Cimeira Iberoamericana.
"Estamos à porta da maior crise energética mundial", afirmou Chavez. "Teremos de desenvolver outros recursos tais como a energia eólica, solar e nuclear -- naturalmente com finalidades pacíficas". Informou ainda que a Venezuela mantem conversações com a Argentina e o Brasil quanto à energia nuclear.
Chavez considerou que a "falta de imaginação nos Estados Unidos e a guerra no Iraque, que desestabilizaram o mercado no Médio Oriente, conduziram à alta de preços.
"Todo o mundo está agora a produzir petróleo à sua capacidade máxima. Na Venezuela, por exemplo, não podemos produzir um único barril mais", afirmou. A Venezuela, quinto maior produtor do mundo, produz neste momento 3,2 milhões de barris/dia.
O presidente venezuelano considerou que um aumento da produção não resolveria o problema do preço e que este repousa no aumento da procura e no modelo consumista irracional do capitalismo. "Os Estados Unidos por exemplo, com apenas cinco por cento da população mundial, utilizam 25 por cento do petróleo e dos combustíveis produzidos no mundo", concluiu.
A notícia está em news.yahoo.com.

Fonte: Resistir.info

Sunday, October 23, 2005

O primeiro post do "Livro Aberto" o novo blogue para escrever um livro sobre o Pico do Petróleo:

"Pico do Petróleo, O Livro" é um livro aberto on-line em que todos os interessados na questão podem intervir, colocando o seu contributo no livro. Para quem conhece a enciclopédia on-line Wikipedia, saberá de onde este livro tira inspiração. Desde já se pode classificar este livro de Wikibook, pois ele esstá não só interessado em receber muitos comentários e sugestões, mas também está aberto à colaboração com os seus leitores, de forma a que possam vir a enriquecer este livro mais textos vindos dos seus leitores.

Outra inspiração que merece destaque, é a de Matt Savinar autor do sítio Life After The Oil Crash, pois também conseguiu fazer um livro apartir da construção do seu sítio on-line sem ser um geólogo, apenas com o seu próprio esforço de pesquisa e desenvolvimento de um estudo detalhado sobre a situação de depêndencia extrema em Petróleo em que nós estamos. Se calhar o que ele fez foi basicamente reciclar a análise do sítio Die-Off para uma linguagem acessível à compreensão de todos.

Agradece-se e incentiva-se a existência de leitores colaboradores. Tu podes fazer parte deste livro, não tenhas medo de partilhar o teu ponto de vista, de aprender e ensinar ao mesmo tempo, junta-te a nós.

Wednesday, October 12, 2005

O artigo que se segue é da autoria de um convidado especial deste blogue, o novo colaborador d'O Pico do Petróleo blogue é autor e editor do sítio Pico do Petróleo ponto net:

A Matemática do Pico de Hubbert

No artigo de 1956 "Nuclear Energy and the Fossil Fuels", em que previu o pico de produção nos EUA, Hubbert apresentou 80 páginas de equações diferenciais para chegar às suas conclusões. Tal valeu-lhe algumas críticas, o método era tão complexo que mais parecia um monolito impenetrável, que só aqueles com profunda formação matemática tinham o previlégio de enteder.

Baseando-se em alguns trabalhos da área da biologia da década de 1960, Hubbert apresentou em 1982 no artigo "Techniques of Prediction as Applied to the Production of Oil and Gas" um método alternativo, bem mais acessível. Este método está descrito muito claramente no livro do professor Kenneth Deffeyes "Beyond Oil ". O que se segue é uma adpatação do texto deste livro usando dados disponíveis on-line.

Estados Unidos

Para se determinar o Pico de Hubbert são necessários dois conjuntos de informação, a produção anual, a que se chama de P, e a produção comulativa (o total de petróleo produzido desde o primeiro ano de exploração até ao ano em causa), identificada por Q. Para começar vamos aplicar este método ao caso dos 48 estados continentais dos EUA, que como sabemos tiveram o seu pico em 1971. A produção anual para estes estados encontra-se disponível na página da Administração de Informação de Energia (EIA - Energy Information Administration). A produção comulativa não está disponível aqui, mas podemos usar o valor publicado no boletim nº 23 da ASPO, que para 2001 indica uma produção comulativa de 169 Giga-barris.

Agora com o auxílio de uma folha de cálculo determinamos para cada ano o valor de P/Q. Em seguida traçamos o gráfico de P/Q contra Q, que apresenta o seguinte aspecto:



Nos primeiros anos o gráfico apresenta-se algo desordeiro mas a partir de 1958 os pontos tomam uma tendência de declive negativo. Vamos agora ajustar uma recta usando estes pontos a partir de 1958, com a forma:

Y = mX + a

Neste caso Y é P/Q e X corresponde a Q, a é o valor de P/Q onde Q é zero e m é declive da recta. Neste caso particular a recta ajustada aos pontos tem o valor de 0.061 para a e -3x10E-4 para m. Com esta recta podemos determinar o valor de Q para o qual P/Q é zero, que neste caso é 198.395, e ao qual se chama Qt. Este valor é a produção comulativa máxima que alguma vez será produzida, sabendo que o pico se dá exactamente quando metade da produção comulativa está completa temos o pico 1973, com 99.198 Giga-barris produzidos.



A teoria de Hubbert é simplesmente a assumpção de que a relação entre P/Q e Q segue uma recta, tudo o resto é pura matemática. Vamos resolver a equação da recta em relação a P para ver o que acontece:

P/Q = mQ + a
P/Q = aQ/Qt + a
P/Q = a(1 - Q/Qt)
P = a(1 - Q/Qt)Q

A parte que está dentro dos perêntesis (1 - Q/Qt) é a fracção do petróleo total que está por produzir, quer isto dizer que a capacidade que temos para produzir petróleo num dado momento depende linearmente da quantidade que ainda existe disponível para produzir. A equação de baixo corresponde a uma curva logística, que tem a forma de uma sino.

Para vermos esta curva temos que usar outra vez a nossa folha de cálculo. Primeiro determinamos a equação de 1/P:

1/P = 1/[a(1 - Q/Qt)Q]


Com 1/P agora temos anos por Gigabarril em vez de Gigabarris por ano. Voltamos à folha de cálculo e criamos uma nova coluna para Q que preenchemos com incrementos de 1 em 1 até chegarmos a Qt. Noutra coluna calculamos o valor de 1/P e noutra P, com as expressões que determinámos antes. Por fim temos que ajustar a esta relação o tempo, o que é fácil sabendo que no final de 2001 estavam produzidos 169 Giga-barris. Na linha em que Q tem este valor acrescentamos noutra coluna o tempo, com o valor de 2002, para as outras linhas basta subtrair ou somar progressivamente o valor de 1/P. O resultado é parecido com esta tabela:



E por fim traçamos o gráfico com o Tempo no eixo dos xx e P no eixo dos yy; convém tambem adicionar os dados reais:



Nem ficou muito mal, pois não?


Mundo

Para o Mundo inteiro podemos usar os dados publicados pela BP na BP Statistical Review, com a produção desde 1965 até hoje. Mais uma vez para os valores comulativos temos de recorrer aos boletins da ASPO, que para 2004 indicam uma produção comulativa de 1040 Giga-barris. Ao passo que os dados que vimos para os Estados Unidos se referiam apenas ao petróleo convencional, estes dados da BP incorporam também a produção a partir de areais betuminosas, petróleo pesado e o Gás Natural Líquido (GNL). Vejamos o gráfico de P/Q contra Q:



Temos outra vez um início caótico mas a partir de 1983 a evolução torna-se bastante suave, seguindo uma tendência bem definida. Agora ajustamos recta como anteriormente e temos isto:



A equação da recta neste caso é P/Q = -2.36x10E-5 Q + 0.051, o que resulta no valor de 2164.86 para Qt. E pronto a magia está feita, resta agora fazer outra vez as contas para chegarmos ao gráfico que mais gostamos, o da produção em relação ao tempo:




Tudo isto para chegarmos à conclusão que aplicando o método de Hubbert aos dados disponíveis até 2004, temos o pico de produção petrolífera no Solestício de Verão de 2006.


Conclusões

Sabendo agora como se aplica o método de Hubbert podemos também perceber as razões por detrás das diferentes datas que aparecem associadas ao Pico do Petróleo. As diferença têm a haver sobretudo com os dados que usamos:

* Se considerarmos apenas o petróleo convencional temos o pico em 2004, como vem indicado nos boletins da ASPO.

* Usando toda a produção petrolífera de petróleo excluíndo as areias betuminosas e o gás natural, temos o pico no final de 2005. São estes os dados que usa o professor Deffeyes no seu livro.

* Como vimos atrás, juntando os dados de todos os líquidos o pico passa para o meio de 2006. Em modelos mais antigo esta data pode ser por vezes 2007, além de que pequenas diferenças nos valores de a ou m podem deslocar o pico alguns meses.

* Os estudos que apontam o pico para depois de 2010 não usam este método, normalmente são consideradas as taxas de declínio de cada campo e as produções previstas em campos ainda em desenvolvimento. Estes estudos são normalmento chamados de análises de baixo para cima.

* Por último convém mencionar o modelo publicado pela ASPO, da responsabilidade do Dr. Colin Campbell e do Grupo de Estudo do Esgotamento dos Hidrocarbonetos da Universadade de Uppsala, liderado pelo professor Kjell Aleklett. Actualmente o ano apontado para o pico é 2010, e aparenta ser a combinação do modelo de Hubbert com uma análise de baixo para cima, que considera uma grande evolução na exploração marítima de alta profundidade.

De todos estes modelos o do professor Deffeyes deverá ser o mais importante. Existe uma grande diferença do petróleo convencional para os outros petróleos, a facilidade com que é extraído do sub-solo. Portanto, a produção global até pode continuar a crescer mais alguns anos, mas à custa de recursos mais difíceis de explorar, logo mais caros. O petróleo barato pode ser já hoje uma coisa do passado.

O professor Deffeyes aproveitou no seu livro para criar uma data simbólica para o Pico do Petróleo, o dia de Acção de Graças de 2005, a 24 de Novembro. É uma boa altura para dar graças pelo século e meio de petróleo barato que a Natureza nos proporcionou. E é a altura de uma vez por todas enfrentar este desafio, que sem dúvida é o maior com que a Humanidade jamais se deparou.
Agradecimentos

Um agradecimento muito especial ao Paul Thompson do WolfAtTheDoor.org.uk pelos dados de produção anteriores a 1965.

Pelo Autor e Editor de PicoDoPetróleo.net
Observatório Africano do Pico do Petróleo

Crise dos combustíveis na Zambia

Zambia minister to tackle energy crisis

Tuesday 11 October 2005, 18:19 Makka Time, 15:19 GMT

The government hopes to end fuel shortages

The Zambian president has appointed a new energy minister to combat a crippling fuel crisis that he says is playing havoc with the economy and agriculture.
President Levy Mwanawasa, administering the oath of office on Tuesday to Felix Mutati, urged him to deal with the crisis immediately.
"Commercial farmers need diesel and petrol. The country's economic gains risk being reversed if the fuel shortages are not addressed," Mwanawasa said at the swearing-in ceremony.
The fuel shortage has been sparked by the prolonged closure of the country's only refinery, leading to unprecedented queues at petrol pumps and has claimed the scalp of Mwanawasa's last energy minister.
"My immediate assignment is to normalise the supply of fuel so that people can concentrate on making money as opposed to sleeping in queues," said Mutati after he was sworn in.

Copper industry suffers

The Zambian government on Monday said a chemical required to re-open the oil refinery had finally arrived, but did not say when the refinery would re-open.
Mwanawasa last week sacked then energy minister George Mpombo, saying he had failed to deal with the crisis which had forced copper mining companies, which form the backbone of the economy, to scale down operations.
Copper production is the
mainstay of the economy
Zambia's copper sector is still suffering from fuel shortages with Konkola Copper Mines' Nkana smelter running at half capacity and the Mufulira smelter shut.
The government said it planned to import 65 million litres of fuel to end the crisis.
Zambia's oil refinery shut last month for maintenance and a lack of naphtha, a product used in the refining process.
A senior manager at KCM, the southern African country's largest copper producer, said the fuel situation remained critical.
"We are still running at half capacity at Nkana smelter. We are still producing 300 tons of copper per day instead of 600 tons," he said.

Fonte: Aljazeera.net, Business Report


Update: 18/10/05

Presidente do Zimbábue compara Bush e Blair a Hitler na ONU

O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, disse ontem (15) que o líder americano, George W. Bush, e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair tem a pretensão de dominar o mundo, como "Adolf Hitler", e são terroristas internacionais. As declarações foram feitas durante uma cerimônia marcando o 60º aniversário da FAO (agência da ONU para Agricultura e Alimentação).

Mugabe começou seu discurso afirmando que Bush e Blair invadiram ilegalmente o Iraque para "tirar do poder" o governo local. "Será que devemos permitir que esses homens, os dos profanos do nosso milênio, formarem uma aliança para atacar um país inocente?" questionou o presidente.

"A voz de Bush e a voz de Blair não podem decidir quem vai governar o Zimbábue, quem vai governar a África, Ásia, Venezuela, Irã, ou o Iraque", disse ele.

Mugabe também acusou o Reino Unido e os Estados Unidos de tentar fazer com que ele desistisse da redistribuição de fazendas cujos donos eram brancos entre negros no país.

"Esse é o mundo que desejamos? O mundo dos gigantes e dos terroristas internacionais que usam seus Estados para nos intimidar? Nos tornamos pequenos", afirmou.

Algumas delegações aplaudiram o seu discurso várias vezes. Mas o embaixador americano Tony Hall, que protestou contra a presença de Mugabe nas celebrações, afirmou que o presidente do Zimbábue "foi muito infeliz" em seus comentários.

Com agências internacionais

Fonte: Diário Vermelho

Michael Ruppert: First Casualties of Peak Oil Are Zimbabwe and Indonesia; Nicaragua Might be Next
O Pico do Petróleo e a Classe Trabalhadora - A visão Eco-Marxista



John Bellamy Foster, editor da Monthly Review, a mais prestigiada e porque não dizer da melhor revista marxista do mundo acaba de reconhecer a realidade do Pico do Petróleo no seu fabuloso ensaio "Organizar a Revolução Ecológica", que podemos classificar como um ensaio Eco-Marxista. Isto terá enormes implicações por toda a esquerda comunista pelo mundo fora, ou não fosse a Monthly Review um orgão de informação e reflexão tão importante para os marxistas como um The Economist ou um Financial Times são importantes para os neoliberais. Eu diria mais importante ainda porque consegue traçar convergências de ideias entre as diversas sectárias correntes marxistas. Sem dúvida um grande passo, para que o importante sector comunista da esquerda adopte a bandeira política do Pico do Petróleo, algumas semanas depois do artigo do professor Rui Namorado Rosa sobre o Pico de Hubbert "O mundo depois do Pico do Petróleo" ter saído no avante! o jornal comunista português.

John Bellamy Foster é também autor de importantes livros sobre o marxismo, imperialismo e a perspectiva ecologista marxista, o Eco-Marxismo dos quais se destacam: "How to Read Karl Marx", "Vulnerable Planet: A Short Economic History of the Environment", "Pox Americana", "Ecology Against Capitalism" e "Marx's Ecology" a obra prima do Eco-Marxismo.

Comunidade Portuguesa de Ambientalistas
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