Saturday, December 10, 2005

A grande relocalização

Desernegizando a América do Norte: O papel do governo local na transição para um mundo pós-petróleo - Parte I

20 de Outubro de 2005
Por Jennifer Bresee e David Room, Global Public Media


Combustíveis líquidos baratos e densos em energia habilitaram a espécie humana a proliferar globalmente, e no mesmo processo também o transporte de pessoas, produtos e recursos tornou-se uma inescapável característica da vida moderna nos países industrializados. Graças à energia barata e abundante a intensidade energética das nossas vidas tornou-se sem precedentes. Agora, a procura por combustíveis fósseis líquidos parece aproximar-se, se não exceder a oferta. Esta estreita diferença entre oferta e procura alimentou uma aguda subida nos preços, desde 28 dólares por barril de crude em 2004 até acima de 70 dólares por barril no final de agosto de 2005. Mesmo que actual escalada abrande, a geologia diz-nos que a extração global de petróleo vai atingir um pico ou "plateau" (muito em breve dizem um crescente número de especialistas) e depois entrar num inexorável declínio, assemelhando-se a uma descida de uma "curva em forma de sino". Este fenómeno chama-se "Pico do Petróleo". O verdadeiro ponto de inflexão chama-se "Petróleo no Pico" e pode ser visto como o ponto em que metade do aprovisonamento original de petróleo economicamente extraível no planeta foi queimado.

Depois do pico, a nossa procura de petróleo e dos seus multiplos produtos para os quais ele é um elemento critíco, vão necessáriamente ficar por satisfazer. A escassez de petróleo vai também aumentar a pressão sobre o aprovisionamento e os preços na segunda energia mais critíca nos Estados Unidos, o Gás Natural, que está já nos limites da equação procura/oferta apesar de alguns recentes invernos amenos. O gás natural, que é um combustível primário para a geração de electricidade e aquecimento em muitas partes dos Estados Unidos e um combustível de utilização industrial comum, já atingiu o pico de produção na América do Norte. O pico mundial da produção de gás natural é extremamente dificíl de prever - alguns dizem que está a décadas de distância e outros (com boas razões para isso) dizem que pode acontecer dentro de alguns anos. Para a América do Norte o problema chave é que agora precisa de importar mais e mais gás natural de regiões longíncuas e muitas vezes instáveis e hostis. Além disso a infra-estrutura requerida é complexa, custosa e leva anos a construir.

Uma vez que o fluxo do petróleo estagne e entre em declínio, muito do actual transporte global, industria e comércio se vai tornar economicamente inviável. Com a decrescente viabilidade das actividades humanas de escala global, as actividades de escala local tais como: economias locais, transporte local, governo local e cultura local vão se tornar crescentemente eficientes e necessárias. À mediada que as operações e instituições globais e nacionais se desintegram em face da escassez energética e choques de preços, as organizações locais e de suporte comunitário vão precisar de darem um passo em frente e assumirem a responsabilidade por muitos serviços sociais como segurança alimentar, transporte e segurança energética. A relocalização de actividades chave e aprovisionamento local pode fazer a diferença entre um futuro sustentável e um colapso social. O que está em causa, nesta conjuntura, é quanto esforço os governos locais vão fazer agora, enquanto a energia é ainda relativamente barata e abundante, para preparar-nos para um futuro de contracção energética, e quão persistentemente estamos nós, como concidadãos constituintes locais de governos locais, prontos a pressionar para acção atempada e substantiva.

O sistema económico global actual e a monocultura do consumo entrelaçam praticamente todos os aspectos da vida humana, a todos os níveis de organização a combustíveis baratos e densos e petroquímicos, o que significa, a maior parte das vezes, ao petróleo. Muitos países menos industrializados (subdesenvolvidos) estão ainda mais dependentes do petróleo que os países industrializados, que frequentemente tem uma maior diversidade de recursos energéticos e infra-estruturas (por exemplo: hidroeléctrica, carvão) e os fundos para diversificar ainda mais o seu bolo energético. Nos países industrializados, indivíduos, famílias, vizinhanças, vilas e cidades, províncias, estados, e associações não governamentais estão dependentes em grande medida do acesso atempado a combustíveis baratos e petroquímicos. Por exemplo, os indivíduos que vivem em ambientes urbanos energeticamente intensivos, tal como os residentes do comum subúrbio ou cinturas suburbanas, dependem de energia densa e barata para se deslocar para e do trabalho, para sair com amigos e família, para levar os miúdos à escola e para aceder a comida e bens de consumo baratuchos. Os petroquímicos baratos são o material bruto para tudo desde estradas e pneus até computadores, medicamentos, desinfectantes e embalagens diversas. Em quase todo o lado combustíveis fósseis baratos possibilitam que casas e negócios tenham água, aquecimento e electricidade.

É preciso muita energia e materiais para manter uma cidade, subúrbio, província ou país habitável. Sem uma mudança radical no domínio dos combustíveis baratos e petroquímicos, as futuras crises de escassez de petróleo e gás natural podem incapacitar alguns serviços municipais tais como transporte público, sanitários, serviços de emergência e de saúde. O transporte público depende de combustível barato e subsídios para a sua própria existência, enquanto não pode competir com a cultura moderna do transporte de uso privado. Sem preparação adequada e crescente apoio, os contínuos aumentos de custos devido a preços elevados do combustível podem assinalar um golpe mortal para os sistemas de transporte público. Os serviços médicos e sanitários carecem de combustível barato para as necessidades de material, pessoal e para alimentar a tecnologia hospitalar. Os petroquímicos baratos são o material bruto de tudo - desde medicamentos até sacos de "plasma" - que os hospitais modernos usam. Sem petroquímicos e combustível baratos, as organizações de resposta rápida de emergência e segurança quer ao nível local como nacional, o agronegócio global, organizações de apoio a vítimas de desastres nacionais e internacionais, e os exércitos nacionais (só para nomear algumas das organizações de grande escala afectadas) vão se tornar muito dispendiosos de gerir, possivelmente proibitivamente.

Afortunadamente, nem todos os líderes políticos são ignorantes ou contrários a lidar com a nossa previsão de crise energética. Para ajudar a espalhar a mensagem a tais líderes, a " Global Public Media " está a conduzir uma série de entrevistas com líderes políticos globalmente, que estão preocupados com o "Pico do Petróleo" e que advogam resposta imediata e preparação. Para apoiar os políticos "Peak Oilers", o Post Carbon Institute, organização irmã de Global Public Media, está a desenvolver a plataforma "Powerdown" (Desernegização) assim como um programa para o governo local catalisar a "desernegizição" da sua bio-região que incluí planeamento de transição e contingências, o protocolo do declínio petrolífero, a relocalização e o design urbano ecológico.

(Continua...)

Tuesday, December 06, 2005

Furacões no Golfo do México: Oscilação ou tendência?

Fonte: O gráfico é do "Los Angeles Times" e mostra a época de furacões de origem no oceano Atlantico desde à décadas até aos dias de hoje. A pergunta que deixa é, serão o Katrina e o Rita parte de uma oscilação ciclíca climática ou parte de uma tendência de tempestades devastadoras fortalecida pelo aquecimento global?


Clica na imagem para alargar...

Cá para mim é tendência.

Notem como está a subir não só a frequência, intensidade e força dos furacões como também está a subir a temperatura da água das correntes que provoam furacões, este segundo aspecto ainda mais importante que o primeiro porque significa que a causa directa dos furacões está a ganhar muita força.

Esperem mais inerrupções bruscas de produção petrolífera no Golfo do México.

Thursday, December 01, 2005

Junta-te a nós e observa a crise a formar-se

Por Kenneth S. Deffeyes


Porque é esta Acção de Graças diferente de todas as outras Acções de Graças? É o pico da produção mundial de petróleo. Devíamos ter dado graças pelo automóvel, o avião, as locomotivas e os navios a diesel, as vias rápidas de duas faixas, as casas aquecidas, pelos plásticos e fibras sintéticas e um enorme leque de petroquímicos. O nosso jantar de Acção de Graças foi produzido com fertilizantes, gasóleo agrícola, pesticidas e a sua distribuição possibilitada pelo petróleo e o gás natural. Richard Katz enviou uma foto da sua caçarola de batata-doce de Acção de Graças, decorada com o pico de Hubbert, desenhado com mini-marshmallows.



Pelos números, tenho de esperar até que o Oil & Gás Journal (O&GJ) publique as estatísticas de 2005, no final do ano. Olhar para os números mensais da Agência Internacional de Energia (AIE) não ajuda muito. O país indicado pela AIE como o terceiro maior produtor do mundo chama-se “Outros”. Em nota de rodapé dizem que “Outros” é obtido subtraindo o resto dos países listados ao total mundial. Espera ai. Como é que eles chegaram ao total mundial sem ser somando? É engraçado, excepto os meus impostos que estão a pagar este exercício da AIE.

A produção total mundial de petróleo do O&GJ para 2005 será provavelmente maior que em 2004. Isso é o despertar do Admirável Mundo Novo, ou estamos a queimar a vela dos dois lados? Com estes preços do petróleo altos, qualquer produtor que suspeite que a produção de um dos seus poços tenham caído abruptamente, chamará a Halliburton para no dia seguinte de manhã lhe resolverem o problema. Claro, suspeito que estamos a apressar o pico ao bombearmos todos os barris de petróleo possíveis.

As grandes companhias petrolíferas não o comentam directamente, mas podemos tirar conclusões das suas acções. Os anúncios da Chevron dizem que gastamos dois barris de petróleo por cada barril que encontramos. A ExxonMobil diz que desde meados dos anos 1980 consumimos mais petróleo que o que descobrimos. A Shell anunciou que se irão concentrar na exploração de gás natural e não na do petróleo.

Os lucros das grandes companhias amontoam-se até às dezenas de milhares de milhões de dólares por trimestre. Poupam dinheiro, readquirem acções e declaram dividendos. Não estão a investir em força em novas infra-estruturas. Se a produção de petróleo parou de crescer e está prestar a entrar em declínio, ninguém precisa de novas refinarias, novos oleodutos, ou novo petroleiros. Mais importante ainda, as grandes companhias não estão a aumentar os investimentos em perfuração de pesquisa. O que oiço por todo o meio petrolífero é “Não existem por aí boas perspectivas.” Claro que existe agitação para se abrirem áreas para a exploração que de momento estão fechadas. A implicação deste apelo é que o acesso a perfuração adicional “resolverá” o nosso problema do petróleo. Cada bocadinho ajuda, mas cabe às companhias mostrar que estes não são apenas bocadinhos.

O que podemos fazer? Tenho estas três categorias: acções que podemos tomar imediatamente, métodos cuja engenharia já está feita e sonhos futuristas.

Imediatos: Um limite de velocidade de 90 Km/h (vão-me odiar no Montana), ensinar os miúdos a apagar as luzes quando saiem de um quarto, abrir as janelas da casa para a aquecer e arrefecer quando o tempo não é rigoroso.

Engenharia: Energia nuclear, automóveis a diesel de alta eficiência, turbinas eólicas, gasificação de carvão (com o dióxido de carbono vendido para a recuperação de petróleo avançada).

Sonhos: Células de combustível a hidrogénio, álcool de milho, células solares. Não percam a esperança num Projecto Manhattan ou num programa Apollo.

O lado do “pico do petróleo” no debate está a ganhar momento, mas temos um longo caminho a percorrer. A edição de 18 de Novembro de 2005 da revista Science tinha nas páginas 1106-1108 mais um tratamento “ele disse, ela disse”. Uns poucos dos nossos opositores publicaram na Internet comentários directos e maldosos. Nós também podemos ser mauzinhos. Estou a começar uma lista honorífica de nomes e de datas que anunciaram para a chegada do pico. A lista é também conhecida por “Cornucópia do Cemitério”. James Medlin ganhou um lugar de honra por fazer circular um artigo longo e interessante, acompanhado por uma nota dizendo que o petróleo já tinha passado o pico antes do furacão Katrina. T. Boone Pickens e Matt Simmons já estão listados. E tenho lugares guardados para Daniel Yergin, Michael Lynch e Thomas Ahlbrandt. Podem inscrever-se assim que estiverem prontos a admitir que o pico chegou.

Não vejo razões para retirar a minha previsão de Acção de Graças, 2005.

Este artigo é uma tradução original de PicoDoPetróleo.net.
Comunidade Portuguesa de Ambientalistas
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