Saturday, October 29, 2005

Life After The Oil Crash

"Deal with Reality, or Reality will Deal with You"

por Matt Savinar



Parte 1: "Peak Oil" e as Ramificações na Civilização Industrial



1. O que é o "Peak Oil"?

Toda a produção de petróleo segue uma curva em forma de sino (curva de Hubbert), seja num campo individual ou no planeta como um todo. Na parte ascendente da curva os custos de produção são significativamente mais baixos do que na parte descendente, quando é necessário um maior esforço (despesa) para extrair petróleo de poços que estão a ficar vazios. Para simplificar: o petróleo é abundante e barato na curva ascendente, escasso e caro na curva descendente. O pico da curva coincide com o ponto em que as reservas mundiais de petróleo estão consumidas em 50%. "Peak Oil" é o termo da indústria para o topo da curva. Uma vez passado o pico, a produção de petróleo começa a decair enquanto os custos começam a subir.

Em termos práticos e bastante simplificados isto significa que, se 2000 foi o ano do "Peak Oil", a produção mundial de petróleo no ano 2020 será a mesma de 1980.

Contudo, a população mundial em 2020 será muito maior (aproximadamente o dobro) e muito mais industrializada do que era em 1980. Consequentemente, a procura mundial de petróleo ultrapassará a sua produção por uma margem significativa. Quanto mais a procura exceder a produção, mais alto será o preço. Em última análise, a questão não é "Quando acabará o petróleo?", mas sim "Quando acabará o petróleo barato?"



2. Quando ocorrerá o "Peak Oil"?

As estatísticas mais optimistas indicam que se atingirá o pico da produção petrolífera entre os anos de 2020 a 2035. Normalmente, estas estimativas vêm de agências governamentais como o Observatório Geológico dos Estados Unidos, das companhias de petróleo, ou de economistas que não consideram a dinâmica do esgotamento de recursos. Mesmo que os optimistas estivessem certos, estaríamos a raspar no fundo do barril de petróleo ainda durante o período de vida da maioria das pessoas que estão hoje na meia-idade.

Uma estimativa mais realista cai entre os anos de 2004 a 2010. Infelizmente, nós não saberemos se o pico foi atingido antes de se passarem 3 ou 4 anos após o facto. Mesmo na parte ascendente da curva, a produção de petróleo varia um pouco de ano para ano. É possível que a produção mundial de petróleo tenha atingido um máximo no ano 2000, porque tem descido a cada ano que se passou. A indústria da energia reconheceu serenamente a gravidade da situação. Por exemplo, num artigo recentemente colocado na página da Exxon-Mobil Exploration, o presidente da empresa, Jon Thompson, declarou:

Até 2015, teremos de encontrar, desenvolver e produzir um adicional de petróleo e gás equivalente a 8 em cada 10 barris que são produzidos actualmente. Espera-se também que o custo associado ao fornecimento acrescido deste petróleo e gás seja considerávelmente superior ao que a indústria despende actualmente.

Igualmente assustador é o facto da maioria das prospecções mais prometedoras se situarem longe dos grandes mercados -- algumas em regiões onde faltam mesmo as infraestruturas básicas. Outras em climas extremos, como no Ártico, colocam extraordinários desafios técnicos.

Se Jon Thompson é tão sincero num artigo colocado no sítio da Exxon-Mobile, poderemos imaginar o que por lá se diz à porta fechada. Os Sauditas não são menos sinceros que Jon Thompson quando discutem o colapso iminente da civilização baseada no petróleo. Eles têm um ditado que diz "O meu pai andava de camelo. Eu ando de carro. O meu filho anda de avião. O filho dele vai andar de camelo". Como se pode ver pelos gráficos que ilustram este artigo, os Sauditas não estão a exagerar.



3. Não importa. Se a gasolina subir muito, eu compartilho o carro, ou arranjo um desses carros híbridos. Porque havia de me preocupar?

Quase toda a actividade humana, desde os transportes, as fábricas, a electricidade, aos plásticos, e especialmente à produção de alimentos e água está profundamente ligada ao fornecimento do petróleo e gás natural.

A. O petróleo e a produção alimentar

Nos EUA, são necessárias aproximadamente 10 calorias de combustível fóssil para produzir 1 caloria de comida. Se a embalagem e transporte forem factores da equação, a proporção sobe consideravelmente. Esta disparidade tem sido permitida pela abundância de petróleo barato. A maioria dos pesticidas é obtida a partir do petróleo, e todos os fertilizantes comerciais são baseados no amoníaco. O amoníaco é produzido a partir do gás natural, um combustível fóssil sujeito a um perfil de esgotamento semelhante ao do petróleo. O petróleo permitiu a existência de ferramentas agrícolas como os tractores, sistemas de armazenamento de alimentos como as câmaras frigoríficas, e os sistemas de transporte de mantimentos como os camiões de distribuição. A agricultura baseada no petróleo é o factor principal que levou ao aumento em flecha da população mundial, de 1.000 milhões em meados do séc. XIX até aos 6.300 milhões no virar do séc. XXI. Enquanto a produção petrolífera subiu, subiu igualmente a produção alimentar. Enquanto a produção alimentar subiu, subiu igualmente a população. Enquanto a população subiu, subiu também a procura de alimentos, o que levou ao aumento da procura do petróleo.

No espaço de poucos anos após ocorrer o "Peak Oil", o preço dos alimentos vai disparar, tal como os preços de produção, armazenamento, transporte e embalagem, que também terão de subir.

Para mais informação sobre petróleo e produção alimentar, podem ler os seguintes artigos (em inglês):

1. "Eating Fossil Fuels" de Dale Allen Pfeiffer

2. "The Oil We Eat" de Richard Manning

B. O petróleo e o fornecimento de água

O petróleo também é necessário para a distribuição da quase totalidade da nossa água potável. O petróleo é usado para construir e conservar aquedutos, barragens, canalizações, poços, bem como para bombear a água que chega às nossas torneiras. Tal como com os mantimentos, o custo da água potável vai subir com a subida do preço do petróleo.

C. O petróleo e a saúde

O petróleo é largamente responsável pelos avanços efectuados pela medicina nos últimos 150 anos. O petróleo permitiu o fabrico em massa das drogas farmacêuticas, do equipamento cirúrgico e o desenvolvimento de infraestruturas de saúde pública como os hospitais, as ambulâncias, as estradas, etc..

D. O petróleo e tudo o resto

O petróleo é também necessário para quase todos os aspectos do consumo, desde os sistemas de esgotos, tratamento de lixos, manutenção de estradas, polícia, serviços de bombeiros e a defesa nacional. Por isso, as consequências do "Peak Oil" terão efeitos muito além do preço da gasolina. Dito de um modo simplificado, podemos esperar: o colapso económico, a guerra, a fome generalizada, e um decréscimo maciço da população mundial.



4. O que quer dizer com "decréscimo maciço"?


Exactamente isso. Calcula-se que a população mundial se contrairá durante a Quebra do Petróleo, até se situar entre 500 milhões e 2.000 milhões. (A população actual é de 6.400 milhões)



5. Está a falar a sério? Isso é cerca de 90% da nossa população actual. Como podem perecer tantas pessoas? De onde vêm essas estimativas?

A estimativa vem de biólogos que estudaram o que sucede com os seres vivos quando se esgota um recurso fundamental do seu meio ambiente. Os resultados são os mesmos, quer se trate de bactérias numa cultura ou seres humanos numa ilha.

Exemplo A: A Bactéria

A bactéria de uma cultura crescerá exponencialmente até se acabarem os recursos, um ponto em que a sua população sofrerá uma quebra. Apenas uma geração antes da quebra, a bactéria terá utilizado metade dos recursos disponíveis. Para a bactéria, não existirá qualquer indício de problemas até começar a morrer à fome. Antes disso acontecer, a bactéria começará a canibalizar-se antes de lutar até à última pela sobrevivência.

Mas os humanos são mais inteligentes que as bactérias, não é? Poderíamos pensar que sim, mas os factos indicam o contrário. O primeiro poço de petróleo explorado comercialmente foi aberto em 1859. Nessa época, a população mundial era cerca de mil milhões. Menos de 150 anos depois, a nossa população disparou para os 6.400 milhões. Nesse período, utilizámos metade do petróleo explorável existente no mundo. A metade que resta custará mais caro extraí-la. Se os peritos estiverem correctos, estamos a menos de uma geração de distância da Quebra. Apesar disso, para muitos de nós parece não existir qualquer indício de problemas. A uma geração de distância do nosso perecimento, estamos tão alheios como as bactérias numa cultura.

Exemplo B: A Ilha da Páscoa

No decurso da nossa História, muitas populações humanas sofreram decréscimos maciços. O exemplo mais próximo da nossa situação actual foi o que teve lugar na Ilha da Páscoa durante o início do séc. XVIII. A Ilha da Páscoa foi descoberta pela civilização ocidental em 1722, quando o explorador holandês Jacob Roggeveen desembarcou na ilha. Na época, Roggeveen descreveu a ilha como uma terra desolada. Os ilhéus que ele encontrou levavam uma existência particularmente primitiva, mesmo pelos padrões do séc. XVIII. Na ilha não existia madeira para queimar, havia poucas espécies de plantas, e não existiam animais nativos maiores que insectos. Os ilhéus não conheciam a roda, não tinham animais de tiro, possuíam poucos utensílios e só 3 ou 4 canoas estragadas e a meter água.

Apesar da aridez existente, a Ilha da Páscoa estava povoada com enormes estátuas de pedra, de construção elaborada. Roggeveen e a sua tripulação ficaram completamente perplexos com as estátuas, porque era claro que quem as tinha construído possuia utensílios, recursos e capacidade organizacional bem mais avançada que os ilhéus que eles encontraram. O que teria acontecido a este povo?

Segundo os arqueólogos, a Ilha da Páscoa foi inicialmente colonizada por Polinésios cerca do ano 500 DC. Nessa altura, a ilha era um paraíso primordial com florestas luxuriantes. Sob estas condições, a população da ilha cresceu até aos 20.000 habitantes. Durante este florescimento populacional, os ilhéus usaram a madeira das florestas como a energia de suporte para praticamente todos as vertentes de uma sociedade altamente complexa. Utilizaram a madeira para combustível, canoas e casas -- e, claro, para transportar as enormes estátuas. A cada ano que passava, os ilhéus tiveram de cortar mais e mais árvores à medida que as estátuas se tornavam cada vez maiores.

Quando as árvores desapareceram, os ilhéus ficaram sem madeira e cordas para transportar e erigir as estátuas; as fontes e as correntes de água secaram, e a madeira para combustível acabou. O fornecimento de comida também diminuiu à medida que desapareceram as aves terrestres, os muluscos maiores e as aves marinhas. Quando os troncos para construir canoas deixaram de existir, a pesca declinou e o peixe deixou de fazer parte da ementa. Quando o fornecimento de comida diminuiu consideravelmente, os ilhéus recorreram ao canibalismo para se sustentarem. A prática tornou-se tão vulgar que eles tinham um insulto que dizia: "A carne da tua mãe enfiou-se entre os meus dentes".

Em pouco tempo o caos substituiu o governo centralizado, e uma classe de guerreiros derrubou os chefes hereditários. Por volta de 1700, a população começou a decrescer até restar entre 0,25 a 0,10 do número original. As pessoas começaram a viver em cavernas para melhor protecção dos seus inimigos e as estátuas foram derrubadas em guerras de clãs. A Ilha da Páscoa, em tempos a morada de uma sociedade complexa, tornara-se uma terra barbarizada.

Tal como Jared Diamond, Professor de Medicina na UCLA, explicou:

A Ilha da Páscoa apresenta-se-nos hoje como uma metáfora: isolada no meio do Oceano Pacífico, sem ninguém para a ajudar, sem nenhum local para onde fugir, a Ilha da Páscoa entrou em colapso. Do mesmo modo, podemos olhar para o Planeta Terra no meio da galáxia e, se também nós tivermos sarilhos, não há outro local para onde fugir, nem outro povo a quem possamos pedir ajuda.



6. Ainda não consigo imaginar esse número de mortos. É demasiado horrível para pensar. Só 10% de nós vai safar-se? Como é que isso é possível?

Eu sei como você se sente. É muito difícil lidar com isto, tanto emocional como intelectualmente. Como Michael Meacher, antigo ministro do ambiente do Reino Unido, declarou recentemente, "É difícil encarar os efeitos, na economia moderna ou na sociedade, de uma redução radical no fornecimento do petróleo. As implicações são avassaladoras". Talvez a explicação seguinte, embora consideravelmente simplificada, ajude a ilustrar o futuro para o qual caminhamos.

Como foi explicado acima, a produção mundial do petróleo segue uma curva em forma de sino. Por isso, se 2000 foi o ano do pico de produção, significa que no ano 2025 a produção de petróleo será aproximadamente a mesma que se efectuou no ano 1975. A população para o ano 2025 calcula-se, em números redondos, nos 8.000 milhões. A população em 1975 era de aproximadamente 4.000 milhões. Dado que a produção de petróleo equivale no essencial à produção de alimentos, isto significa que teremos 8.000 milhões de pessoas no planeta, mas comida para apenas 4.000 milhões.

Com isto presente, imagine a seguinte situação: você, eu e mais 6 pessoas, estávamos fechados numa sala, com comida para apenas 4 pessoas. Pelo menos metade de nós morreria de fome. Mais um ou dois provavelmente morreria a disputar a pouca comida que temos. Isto é o que aconteceria se as pessoas lutassem com os punhos. Se nos dessem armas, imagine como ficaria aquela sala...



7. Parece claro que temos um verdadeiro problema, mas você está a descrever o pior cenário possível, não é?

Estou a descrever o cenário mais provável. O pior cenário é a extinção, porque as guerras que vão acompanhar a escassez do petróleo serão provavelmente as mais terríveis e generalizadas que a humanidade alguma vez atravessou. Discutiremos isto com mais pormenor na Parte 4.



8. Onde é que você foi buscar esta informação? Quem mais está a falar acerca do "Peak Oil"? Que antecedentes é que eles possuem? Como é que eu sei que eles são credíveis, e não uns doidos?

Quando você acabar de ler estes textos, aconselho-o a ir ao Google e procurar o termo "Peak Oil". Você encontrará para sua consternação, tal como eu, que tudo o que leu neste sítio é suportado por factos palpáveis, relatados por fontes altamente respeitadas. Tem aqui alguns links para começar:

A. Dr. David Goodstein, Professor de Física e Vice-Reitor da Universidade Cal Tech

*ABC News, entrevista com Goodstein

B. Matthew Simmons, Conselheiro para a Energia de George Bush

*Agosto de 2003, entrevista com Simmons

*Simmons, Fevereiro de 2004: Apresentação completa em Power Point sobre o "Peak Oil"

*Índice completo dos ensaios de Simmons sobre o "Peak Oil" e temas relacionados

C. Dr. Colin Campbell, antigo Geólogo de Exploração da Texaco, Geólogo-Chefe do Equador, e fundador da Associação para o Estudo do "Peak Oil" e do Gás

*Mais de 35 "newsletters" sobre o "Peak Oil" pelo Dr. Campbell

*Mais de 15 artigos sobre o "Peak Oil" pelo Dr. Campbell

D. Artigos nas principais publicações noticiosas

*Mais de 50 artigos de publicações como The San Francisco Chronicle, The Los Angeles Times, Barrons, New York Times, Newsweek, The Financial Times, The Washington Post, Business Week, etc. (clicar em "Articles")



9. Será possível termos já atingido o "Peak Oil" e que estejamos agora nas primeiras fases da Quebra do Petróleo?

Sim. Existe uma grande evidência de que já entrámos na quebra.

A. Declínio da produção petrolífera

Em Maio de 2003, na Conferência do "Peak Oil" em Paris, Kenneth Deffeyes, Professor de Princeton e autor de "O Pico de Hubbert: A Iminente Crise Mundial do Petróleo", explicou que o "Peak Oil" se deu em 2000 notando que a produção tem de facto declinado desde essa data.

B. Estimativas drasticamente revistas sobre as reservas de petróleo e gás natural

Em Outubro de 2003, a CNN Internacional noticiou que uma equipa de investigação da Universidade de Uppsala, na Suécia, tinha concluído que as reservas mundiais de petróleo eram 80% abaixo do que se calculava, que a produção mundial de petróleo atingiria o pico dentro dos próximos 10 anos, e que, após o pico da produção, os preços da gasolina atingiriam níveis desastrosos. Em Janeiro de 2004 as acções das principais companhias petrolíferas caíram, após a Royal Dutch/Shell Group ter abalado os seus investidores ao cortar as suas reservas "demonstradas" em 20%, levantando preocupações sobre as outras companhias, se teriam também avaliado incorrectamente a sua parte. Um mês depois, a companhia energética El Paso Corporation anunciou que tinha de cortar as suas reservas demonstradas de gás natural em 41%.

C. O alto preço do petróleo e da gasolina

Em Março de 2004, o preço do petróleo atingiu 38 dólares o barril, o mais alto desde 1991. O preço médio do galão de gasolina (aprox. 3,8 litros) atingiu nos EUA um recorde de 1,77 dólares, e em algumas zonas chegava aos 2,40. Muitos analistas previram que o preço da gasolina excederá os 3,50 dólares por galão no Verão de 2004.

D. Valores altos de desemprego

Podemos pensar no "Pico de Produção Petrolífera" como um sinónimo para "Pico na Criação de Emprego". Em Dezembro de 2003, o desemprego "ajustado", que foi espremido até ao limite do concebível, ficou ainda assim nos 6%. Contudo, se for considerado o factor de qualidade de emprego, os números reais andam pelos 12 a 15%. Em Março de 2004, a economia norte-americana está a criar apenas 21.000 empregos por mês, 20.000 dos quais são criados pelo governo. Precisamos, contudo, de criar mais de 200.000 novos empregos por mês apenas para acompanhar o aumento da população. Criar novos empregos é praticamente impossível, agora que a produção de petróleo atingiu o pico. Sem um aumento no fornecimento de energia a economia não consegue crescer, e os empregos não podem ser criados. Isto significa que, nos próximos anos, veremos mais casamentos "gay" do que novos empregos serem criados.

E. Apagões

Os sucessivos apagões que aconteceram na Califórnia nos finais de 2000, o enorme apagão da Costa Leste em Agosto de 2003 e vários outros apagões maciços que ocorreram nos finais do Verão de 2003 são simplesmente um sinal das coisas que virão.

F. Redução de alimentos e da produção química

A produção mundial de cereais tem caído de ano para ano, desde 1996-1997. A produção mundial de trigo tem caído de ano para ano, desde 1997-1998. Na China, as recentes oscilações no preço dos alimentos, podem ser sinais da aproximação de uma crise mundial na alimentação, provocada pelo aquecimento global e por uma escassez crescente no abastecimento de água aos maiores produtores de cereais. Nos EUA, um quarto das fábricas de fertilizantes fechou definitivamente durante o ano passado; outro quarto ficou parado até os preços do gás natural recuarem, após uma subida súbita. (Ver Richard Heinberg, "Actualização, Petróleo e Gás ", Museletter Number 142, Janeiro 2004)

G. Conclusão

O declínio na produção petrolífera, a redução nas estimativas das reservas de gás e petróleo, o desemprego com valores altos e crónicos, os apagões em larga escala, a redução nos fornecimentos alimentares e químicos -- se olharmos isoladamente para cada uma destas peças de evidência, elas não dirão muito sobre a situção em que se encontra o mundo. Contudo, quando as vemos agrupadas no contexto do "Peak Oil", o facto de estarmos já em queda torna-se óbvio.



10. E quanto aos chamados recursos petrolíferos "não-convencionais"? O Canadá não possui uma enorme quantidade deste tipo de petróleo?

O chamado petróleo "não-convencional", como as areias de petróleo encontradas no Canadá e na Venezuela, é incapaz de substituir o petróleo convencional, pelas seguintes razões:

A. O petróleo não-convencional tem uma Relação de Aproveitamento Energético muito baixa e é extremamente difícil de produzir. É necessário investir em energia cerca de 2 barris de petróleo para produzir, a partir destes recursos, 3 barris de petróleo equivalente. O custo dos projectos petrolíferos não-convencionais canadianos é tão elevado que, em Maio de 2003, a publicação "Rigzone", ligada à indústria petrolífera, sugeria: "O Presidente Bush, conhecido pela sua fé religiosa, devia rezar todas as noites para que a Petro-Canada, e outras empresas ligadas às areias de petróleo, encontrassem meios para cortar nas despesas e aumentar a segurança energética dos EUA".

B. Os custos ambientais são terríveis e o processo utiliza uma imensidão de água potável e também gás natural, e ambos existem em quantidades limitadas.

C. Embora o petróleo não-convencional seja abundante, o seu ritmo de extracção é demasiado lento para responder ao grande aumento global da procura de energia. O Dr. Colin Campbell calcula que a capacidade conjunta do Canadá e da Venezuela na área do petróleo não-convencional, daria uns 2,8 milhões de barris diários (mbd) em 2005, 3,6 mbd em 2012, e 4,6 mbd em 2020. Isto são gotas no balde, dado o actual consumo de 75 mbd, que se espera vir a aumentar até 120 mbd em 2020.



11. Acabei de ler um artigo que afirma continuarem a aumentar as reservas conhecidas de petróleo. O que é que diz a isto?

Nos últimos anos, o USGS e o EIA reviram as suas estimativas das reservas de petróleo em alta. Isto levou muitos observadores e comentadores a aacreditar que a possibilidade de uma severa escassez de petróleo era coisa do passado.

Enquanto os relatórios do USGS (Observatório Geológico dos EU) e do EIA (Administração da Informação Energética) sobre a produção no passado são bastante fidedignos, as suas predições para o futuro são em grande parte propaganda. Eles próprios o admitem. Por exemplo, após recentes revisões em alta nas projecções para o fornecimento do petróleo, o EIA declarou: "Estes ajustamentos às estimativas são baseados em considerações não-técnicas, que sustentam o crescimento da oferta interna até aos níveis necessários para responder aos níveis de procura projectados".

Por outras palavras, eles preveem quanto acham que vamos utilizar, e depois dizem-nos: "Vejam, não há motivos de preocupação -- para isso nós temos!"



12. Será possível existir ainda mais petróleo por descobrir?


Quase de certeza que não. Todas as evidências indicam que já localizámos a maioria das reservas mundiais de petróleo.

A. Os maiores campos petrolíferos do mundo têm todos mais de 40 anos

Segundo um relatório recente da Escola Mineralógica do Colorado, intitulado "Os Campos de Petróleo Gigantes no Mundo", os 120 maiores campos produzem quase 50% do crude mundial. Os 14 maiores são responsáveis por mais de 20%. A idade média destes 14 maiores é de 45,5 anos. As reservas, nos campos de petróleo super-gigantes e gigantes, estão a diminuir à razão de 4 a 6% ao ano. O estudo conclui que "a maioria dos verdadeiros gigantes mundiais já foi encontrada há várias décadas".

B. A "Mainland" norte-americana como um exemplo

Se você ainda não está convencido de que já não existem mais (ou pelo menos sobram muito poucos) grandes campos de petróleo por descobrir, considere o exemplo do que aconteceu nos EUA. Nos EUA nós pesquisámos e extraímos petróleo há mais tempo do que em qualquer outro lugar, desde 1859, e temos maior força financeira e tecnológica do que quaisquer outros. Se alguém conseguisse contornar o declínio petrolífero, teríamos sido nós. A produção de petróleo nos EUA atingiu o pico em 1970 e tem caído consistentemente desde então. Apesar dos máximos incentivos financeiros, da tecnologia mais sofisticada do mundo, e de uma abertura completa à inovação, os EUA foram incapazes de abrandar, muito menos de inverter, este declínio na produção de 2% ao ano. Trinta e cinco anos de dinheiro e de investigação não abrandaram nem inverteram o declínio; porque é que no resto do mundo havia de ser diferente? O facto é que no resto do mundo não vai ser diferente.



13. O Clube de Roma não fez a mesma previsão nos anos 70?


Frequentemente, sempre que alguém faz uma previsão tipo "fim do mundo", é escarnecido como "clubista de Roma". Isto é uma posição extremamente infeliz, porque afinal o CdR parecia estar correcto. Quem o diz? Nada menos que Matthew Simmons, que declarou em 2000: "Em retrospectiva o CdR demonstrou estar correcto. Nós simplesmente desperdiçámos 30 anos importantes ao ignorar o seu trabalho."



14. Tivémos problemas com o petróleo nos anos 70. Porque é que agora é diferente?

A escassez de petróleo dos anos 70 foi consequência de acontecimentos políticos. A próxima escassez de petróleo vai resultar da realidade geológica. Pode-se negociar com os políticos. Pode-se ameaçar, bloquear ou invadir os países do Médio Oriente. Não se pode fazer nada à Terra.

No que respeita ao fornecimento de petróleo aos EUA, existiam nos anos 70 outros países produtores, "desalinhados", como a Venezuela, que puderam preencher as falhas no abastecimento. Após a produção mundial atingir o pico, não vão existir quaisquer produtores "desalinhados" que possam suprir a falha.

Os choques petrolíferos dos anos 70, foram um pouco como as vibrações que precedem um terramoto. A crise que se aproxima é provocada por escassez de recursos, e não por política -- embora, claro, a política faça parte dela.

Não é uma interrupção temporária, mas o início de uma condição nova e permanente. Os sinais de aviso já se fazem sentir há muito tempo. Eles têm sido bem visíveis, mas o mundo tornou-se cego e não conseguiu entender a mensagem.

No futuro, comparar as falhas de petróleo do anos 70 com a Quebra do Petróleo de 2005-2050, será como comparar uma amolgadela no pára-choques com uma violenta colisão frontal.



15. Então temos novamente um "fim do mundo". O que é que isso tem de novo? O "bug do ano 2000" era suposto ter sido o fim do mundo, e acabou por dar em nada.


O que há de novo é que isto é bem real. Não é uma simulação de acidente, não é histeria paranóica. É um facto real. O Conselheiro para a Energia de George W. Bush, Matthew Simmons, referiu-se a este assunto na Conferência do "Peak Oil" em Paris, declarando:

Penso que é da natureza humana, gostamos realmente de ter sonhos agradáveis. Um único lobo a uivar é ignorado, a menos que ele já esteja na porta da frente, e nessa altura já é demasiado tarde para dar o alarme. E as crises não são, por definição, mais do que problemas que foram ignorados. E todas as grandes crises foram ignoradas até se tornar demasiado tarde para fazer alguma coisa.

O "Peak Oil" não é "O Regresso do Y2K". O "Peak Oil" diferencia-se dos cenários anteriores de "fim do mundo" (como o "bug do ano 2000") nos seguintes aspectos:

A. O "Peak Oil" não é um "se", mas um "quando". Mais ainda, não é um "quando nos próximos mil anos", mas um "quando nos próximos dez anos".

B. O "Peak Oil" é baseado em factos científicos e não em especulação subjectiva.

C. O governo e a indústria começaram a preparar-se para o Y2K entre 5 a 10 anos antes do problema ocorrer. Nós estamos a 10 anos do "Peak Oil" e não fizémos qualquer preparação.

D. Os preparativos necessários para o "Peak Oil" requerem uma completa verificação de todos os aspectos da nossa civilização. Isto é muito mais complexo do que corrigir um "bug" num qualquer computador.

E. Além disso, o petróleo é fundamental para a nossa existência, mais ainda que os computadores. Se as previsões do "bug do ano 2000" estivessem correctas teríamos regressado à situação de 1965. Com o passar do tempo recuperaríamos. Quando chegar a Quebra do Petróleo vamos regressar à situação de 1765. Não conseguiremos recuperar, porque não restará petróleo economicamente viável para nos ajudar a descobrir a solução do problema.



Ir para a Parte 2: Energias Alternativas: Combustíveis do Futuro ou Embustes Cruéis?


Voltar ao início



Copyright 2003, Matthew David Savinar

http://www.lifeaftertheoilcrash.net
.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home

Comunidade Portuguesa de Ambientalistas
Ring Owner: Poli Etileno Site: Os Ambientalistas
Free Site Ring from Bravenet Free Site Ring from Bravenet Free Site Ring from Bravenet Free Site Ring from Bravenet Free Site Ring from Bravenet
Site Ring from Bravenet