Wednesday, May 30, 2007

Segundo um estudo os portugueses pagam mais caro 18% pelo consumo de electricidade que os espanhóis

«Um estudo da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) revela que os preços da electricidade para os consumidores domésticos continuam a ser 18% mais elevados em Portugal do que em Espanha.»

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Diário Económico

Nota: Este é o resultado do neoliberalismo liderado pela iniciativa privada e pela política privatizadora. O sector energético em Portugal precisa de um plano nacional com intervenção estatal. O desenvolvimento da energia tem de ser direccionado para a produção e o mercado endógeno, só assim se pode combater o grave problema nacional de uma dependência energética de 84% do exterior (a pesar duramente na balança comercial paga por todos nós). Ao contrário do que sugere a imprensa económica, uma invasão de empresas espanholas só vai piorar a situação do preço da energia, do défice de produção nacional e da insustentabilidade ecológica desta política.

A energia tem que ser encarada como aquilo que realmente é para os cidadãos e para a economia, um bem estratégico e não um simples negócio de milhões como muitos outros que florescem neste Portugal ultra-liberal.

Saturday, May 26, 2007

Reflexões de Fidel Castro

PARA OS SURDOS QUE NÃO QUEREM OUVIR

Síntese do que declarou a FAO no dia 16 de maio de 2007 em Roma, sede central da instituição.

A produção mundial de cereais vai caminho de alcançar em 2007 um nível recorde. Apesar disso, os fornecimentos apenas conseguirão satisfazer a crescente demanda estimulada pelo desenvolvimento da indústria dos biocombustíveis.

Os preços internacionais da maioria dos cereais elevaram-se significativamente no período 2006-07 e a previsão atual é que continuem altos durante 2007-08, segundo o correspondente relatório “Perspectivas das colheitas e situação alimentar”. Prevê-se que a fatura pela importação de cereais nos países de baixas receitas e déficit de alimentos atinja aproximadamente 25 por cento na atual temporada.

Está previsto que o rápido crescimento da demanda de etanol elaborado a partir do milho eleve em 9 por cento a utilização industrial de grãos no período 2007-08.

As perspectivas para a colheita mundial de trigo desceram ligeiramente desde a previsão elaborada no relatório de abril.

Em 2007 está prevista uma marcada diminuição da produção de cereais no norte da África como resultado da seca que tem afetado Marrocos e que pode reduzir à metade a produção de trigo desse país.

Em África meridional se espera uma colheita reduzida por segundo ano consecutivo. Em Zimbábue se prevê um forte aumento do preço do milho, um alimento básico para milhões de pessoas em conseqüência da seca.

O Malauí contará com excedentes para a exportação após uma boa colheita.

Na Bolívia, um elevado número de camponeses vulneráveis precisa de ajuda de emergência depois dos danos sofridos nas culturas e no gado provocados pela seca e as cheias no ano 2007, que afetaram a campanha agrícola.

O ressurgimento da violência na Somália meridional provocou o deslocamento de centenas de milhares de pessoas, e pode reduzir a superfície de terras cultivadas.

Uma previsão inicial e provisória da FAO para a produção mundial de arroz no ano 2007 estima uma colheita ligeiramente superior de aproximadamente 422 milhões de toneladas, que igualará o recorde alcançado em 2005.

Exceto a China e a Índia – os principais produtores- a soma das colheitas de cereais do resto dos países decrescerá.

A FAO reconhece as conseqüências da produção de combustível utilizando os alimentos como matéria-prima. Algo é algo.

Mas, também é destacável a notícia de que o Congresso dos Estados Unidos determinou a troca em seus escritórios de 23 mil lâmpadas incandescentes por lâmpadas fluorescentes. Afirma-se que famílias norte-americanas por iniciativa própria decidiram substituir 37 milhões de lâmpadas incandescentes por fluorescentes. Em apenas poucos meses os 37 milhões de lâmpadas substituídas pouparão o gasto equivalente em gasolina de 260 mil automóveis. Calculem a poupança em combustível quando sejam substituídos bilhões de lâmpadas incandescentes.

Faço um parêntese para tratar um tema relacionado com minha pessoa, e lhes peço desculpas.

As notícias falam de uma cirurgia. A meus compatriotas não lhes agradava que eu explicasse em várias ocasiões que a recuperação não estava isenta de riscos. Em geral, falavam de uma data na qual eu apareceria publicamente e vestido com meu uniforme verde-oliva de sempre. Bom, não foi apenas uma cirurgia, senão várias. Inicialmente foram insucessas, e isso influiu na prolongada recuperação.

Durante muitos meses dependi de veias canalizadas e cateteres pelos quais recebia uma parte importante dos alimentos, e não desejava desagradáveis desenganos para o nosso povo. Hoje recebo pela via oral todo o que a minha recuperação precisa. Nenhum perigo é maior do que os vinculados à idade e à saúde da qual abusei nos tempos agitados que me correspondeu viver. Por enquanto faço o que devo fazer especialmente refletir e escrever sobre questões que, na minha opinião, têm determinada importância e relevância. Tenho muito material pendente. Para filmes e fotos que requerem de cortar constantemente o meu cabelo, a barba e o bigode, e ficar arrumado todos os dias agora não tenho tempo. Além disso, tais apresentações multiplicam as solicitações de entrevistas. Digo-lhes a todos simplesmente que estou melhorando e mantenho um peso estável, aproximadamente 80 quilogramas.

Tento que as reflexões sejam mais breves para não roubar espaço à imprensa escrita nem aos noticiários da televisão. Todo o resto do tempo o emprego em ler, receber informação, ter conversas telefônicas com numerosos companheiros e realizar os exercícios de reabilitação correspondentes. Não posso dizer e criticar tudo o que conheço, porque dessa maneira seriam impossíveis as relações humanas e internacionais, das quais nosso país não pode dispensar. Mas, serei fiel à divisa de não escrever nunca uma mentira.

Fidel Castro Ruz

23 de maio de 2007

17h06


Publicado originalmente em Agência Cubana de Notícias

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Reflexões de Fidel Castro

NINGUÉM QUER PEGAR O BOI PELOS CHIFRES

No dia 28 de Março, há menos de dois meses, quando Bush, após uma reunião com os principais fabricantes norte-americanos de automóveis, proclamou a sua diabólica idéia de produzir combustível a partir dos alimentos, escrevi a primeira reflexão.

O chefe do império gabou-se de que os Estados Unidos, usando o milho como matéria-prima, era já o primeiro produtor mundial de etanol. Centenas de fábricas eram construídas ou ampliadas no seu território visando esse objetivo.

Naqueles dias os países industrializados e ricos já estavam acariciando a mesma idéia mediante o emprego de todo tipo de cereais e sementes oleaginosas, incluídas as de girassol e soja, fontes de excelentes proteínas e óleos.

Por isso escolhi o título daquela reflexão: “Mais de três bilhões de pessoas no mundo condenadas a morrer precocemente de fome e de sede”.

Os perigos para o meio ambiente e a espécie humana eram um tema sobre o qual refleti durante anos. O que nunca imaginei foi a iminência do risco. Ainda não se conheciam os novos dados da ciência sobre a rapidez das mudanças climáticas e as suas conseqüências imediatas.

No dia 3 de Abril, após a visita de Bush ao Brasil, escrevi minhas reflexões: “A internacionalização do genocídio”.

Adverti, ao mesmo tempo, que as mortíferas e sofisticadas armas que se estavam produzindo nos Estados Unidos e noutros países podiam pôr termo à vida da espécie humana em poucos dias.

Se se procurasse um respiro para a humanidade e lhes der uma oportunidade à ciência e à duvidosa sensatez dos que tomam decisões, não seria necessário privar de alimentos às duas terceiras partes dos habitantes do planeta.

Temos fornecido dados sobre a poupança que significa a simples substituição de lâmpadas incandescentes por lâmpadas fluorescentes a partir de cálculos aproximados. São cifras seguidas por onze e doze zeros. A primeira se corresponde com centenas de bilhões de dólares em poupança de combustível cada ano e a segunda com milhões de milhões de dólares no investimento necessário para produzir essa eletricidade simplesmente trocando lâmpadas, o que significa menos de 10 por cento do conjunto de gastos e uma considerável poupança de tempo.

Com toda clareza expressamos que as emanações de CO2, além de outros gases contaminantes conduziam aceleradamente para uma mudança climática rápida e inexorável.

Não eram temas fáceis de serem tratados, por seu conteúdo dramático e quase fatal.

A quarta reflexão intitulou-se: “O que se impõe de imediato é uma revolução energética." Uma prova do esbanjamento de energia nos Estados Unidos e da desigualdade de sua distribuição no mundo é que no ano 2005 na China havia menos de 15 automóveis por cada mil habitantes, na Europa 514 e nos Estados Unidos da América 940.

Este último país, um dos territórios mais ricos em hidrocarbonetos, hoje sofre um grande déficit de petróleo e gás. Bush decidiu que é preciso extrair esses combustíveis dos alimentos que se necessitam para os estômagos cada vez mais famintos dos pobres da Terra.

Em Primeiro de Maio de 2006 conclui o meu discurso perante o povo com as seguintes palavras:

“Se os esforços que Cuba realiza atualmente fossem realizados por todos os povos do mundo, aconteceria o seguinte:

“1º As reservas provadas e prováveis de hidrocarbonetos durariam o dobro.

“2º Os elementos poluentes que hoje são lançados por estes à atmosfera, ficariam reduzidos à metade.

“3º A economia mundial receberia um respiro, visto que deve ser reciclado um enorme volume de meios de transporte e equipamentos elétricos.

“4º Poderia ser proclamada uma moratória de quinze anos sem iniciar a construção de novas centrais eletro-nucleares.”

A troca de lâmpadas foi o primeiro que fizemos em Cuba, e cooperamos com vários países do Caribe para levá-lo à prática. Na Venezuela, o Governo substituiu 53 milhões de lâmpadas incandescentes por fluorescentes em mais de 95% dos lares que recebem eletricidade. O resto das medidas para a poupança de energia são aplicadas com firmeza.

Tudo quanto exprimo tem sido provado.

Por que apenas se escutam rumores sem que as direções dos países industrializados se comprometam abertamente com uma revolução energética, que implica mudanças nos conceitos e nas ilusões sobre crescimento e consumismo que contagiaram a não poucos países pobres?

Existe, talvez, alguma outra forma de enfrentar os gravíssimos perigos que a todos ameaçam?

Ninguém quer pegar o boi pelos chifres.

Fidel Castro Ruz

22 de maio de 2007

17h:10


Publicado originalmente em Agência Cubana de Notícias

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Reflexões de Fidel Castro

O SUBMARINO INGLÊS

Os cabogramas informam. É do tipo Astute, o primeiro a ser construído na Grã- Bretanha em mais de duas décadas.

“Um reator nuclear lhe permitirá navegar sem reabastecer-se de combustível durante seus 25 anos de vida útil. Produz água potável e oxigênio próprios, por isso pode circunavegar o globo sem necessidade de sair à superfície, disse Nigel Ward, encarregado dos estaleiros, à BBC.”

“Parece uma besta de aspecto malvado”, afirma um.

”Sobre nós ergue-se ameaçante um galpão de 12 andares; dentro dele encontram-se três submarinos em diferentes etapas de construção”, assevera mais outro.

Alguém expressa que “o submarino pode detectar a partir do Canal da Mancha se há movimento de cruzeiros na baía de Nova York, aproximar-se das costas sem ser detectado e captar ligações para celulares”. ”Pode, além disso, transportar forças especiais em mini-sumergíveis que, por sua vez, poderão disparar os letais mísseis Tomahawk a distâncias de 1.400 milhas”, afirma um quarto.

El Mercúrio, do Chile, coloca ênfase na notícia.

A Marinha Real britânica declara que será um dos mais avançados do mundo. O primeiro deles será lançado ao mar em 8 de junho e começará a operar em janeiro de 2009.

Pode transportar até 38 mísseis cruzeiros Tomahawk e torpedos Spearfish, capazes de destruir um navio de guerra de grandes dimensões. Contará com uma tripulação estável de 98 marinheiros, os quais poderão até assistir filmes em gigantes telas de plasma.

O novo Astute levará a última geração de torpedos Block 4 Tomahawk, que podem ser reprogramados em plena trajetória de ataque. Será o primeiro submarino sem um sistema de periscópios convencionais e, em troca, utilizará fibra ótica, raios infravermelhos e rastreio térmico de imagens.

“A companhia armamentista BAE Systems construirá mais dois submarinos do mesmo tipo” informou AP. O custo total dos três sumergíveis, segundo cálculos que certamente ficarão por baixo, eleva-se a US$ 7.5 bilhões.

Bela proeza britânica! O povo desse país, inteligente e tenaz, certamente não sentirá orgulho nenhum. O mais surpreendente é que com essa soma se poderiam formar 75 mil médicos e atender 150 milhões de pessoas, supondo que o custo de formar um médico fosse a terceira parte do que custa formar um médico nos Estados Unidos. Se quisessem, poderiam construir 3 mil policlínicas sofisticadas muito bem equipadas, dez vezes mais das que possui nosso país.

Cuba forma atualmente como médicos dezenas de milhares de jovens de outros países.

Numa aldeia isolada qualquer da África, um médico cubano pode receber um jovem dessa aldeia ou do município, com 12º ano de escolaridade, e oferecer-lhe os conhecimentos de sua profissão utilizando vídeos e computadores que recebam energia de um pequeno painel solar, sem que o jovem tenha que sair de sua região natal, nem contaminar-se com os hábitos de consumismo das grandes cidades.

O que importa são os doentes, que sofrem de malária ou outras muitas doenças típicas e inconfundíveis, que o aluno verá junto do médico.

O método foi provado com resultados surpreendentes. Os conhecimentos e a prática acumulada durante anos são incomparáveis.

O exercício não lucrativo da medicina é capaz de ganhar todo coração nobre.

Cuba, preocupada desde o triunfo da Revolução pela formação de médicos, de professores e de pessoal de outras profissões, com menos de 12 milhões de habitantes, conta atualmente com mais especialistas em Medicina Geral Integral que os médicos dos quais dispõe a África subsaariana, com mais de 700 milhões de habitantes.

Ficamos comovidos com as noticias que chegam a respeito do submarino inglês. Ilustram-nos, entre outras coisas, as sofisticadas armas com que se tenta manter a ordem insustentável desenvolvida pelo sistema imperial dos Estados Unidos.

Não podemos esquecer que a Inglaterra foi durante séculos, até há muito pouco tempo, a Rainha dos Mares. Hoje o que resta daquela privilegiada posição é apenas uma fração do poder hegemônico de seu aliado e líder, os Estados Unidos.

Churchill disse: “Afundem o Bismarck! Hoje Blair diz: “Afundem o que resta do prestigio da Grã-Bretanha!

Para isso, ou para o holocausto da espécie, é para o único que serviria seu “maravilhoso submarino”.

Fidel Castro Ruz

21 de maio de 2007

17hs 00

Publicado originalmente em Agência Cubana de Notícias

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Reflexões de Fidel Castro Ruz

A OPINIÃO UNÂNIME

No VI Encontro Hemisférico de Havana, quando se discutiu o tema da produção de biocombustíveis a partir de alimentos, que são cada vez mais caros, a esmagadora maioria se opôs com indignação. Mas, era indiscutível que algumas personalidades de prestígio, autoridade e boa fé tinham sido atraídas pela idéia de que a biomassa do planeta alcançava para ambas as coisas num tempo relativamente breve, sem pensar na urgência de produzir os alimentos que, já por si escassos, serviriam de matéria-prima para o etanol e o agrodiesel.

No entanto, quando se abriu ao debate o tema dos Tratados de Livre Comércio com os Estados Unidos, participaram várias dezenas de pessoas, e todas condenaram unanimemente tanto as formas bilaterais quanto multilaterais desses acordos com a potência imperial.

Levando em conta a necessidade de espaço, novamente utilizo o método da síntese para expor três intervenções eloqüentes de personalidades latino-americanas que expressaram conceitos de enorme interesse e o fizeram com grande clareza e peculiaridade. Respeitam-se, como em todas as sínteses das Reflexões anteriores, as formas exatas de exposição dos autores.

ALBERTO ARROYO (México, Rede mexicana de Ação contra o Livre Comércio).

Gostaria de partilhar com vocês os novos planos do império e tentar alertar ao resto do continente sobre algo novo que está surgindo ou que está avançando como uma nova estratégia para uma nova etapa da ofensiva dos Estados Unidos. O NAFTA, ou o TLC da América do Norte foi simplesmente o primeiro passo de algo que eles querem para todo o continente.

A nova tentativa parece não levar em conta a derrota que significou não poder conseguir a ALCA, a que, inclusive, no seu Plano “B” reconhece que não pode alcançar o que ele chama de a ALCA integral simultaneamente com todos os países do continente; tentará fazê-lo, aos pedaços, negociando bilateralmente Acordos de Livre Comércio.

No caso da América Central conseguiu assiná-lo, mas a Costa Rica ainda não o ratificou. Na zona andina, não consegue nem sequer sentar à mesa ao conjunto dos países, senão apenas a dois, e com esses dois ainda não concluiu as negociações.

O que tem de novo o ASPAN (Aliança para a Segurança e Prosperidade da América do Norte)? Três coisas que eu considero fundamentais:

Primeira: Fortalecer os esquemas militares e de segurança para encarar a ressistência dos povos é precisamente a sua reação perante o triunfo do movimento que detém os seus planos.

Não é só situar bases militares nas zonas de perigo ou nas zonas com altos recursos naturais estratégicos, senão tentar criar uma coordenação estreita, com planos concertados com os países para melhorar os esquemas de segurança que são uma forma de encarar, como se fossem criminosos, os movimentos sociais.

Este é o primeiro aspecto novidoso.

Segundo elemento, que também considero uma novidade: os grandes atores de todo este esquema neoliberal sempre o foram diretamente as multinacionais. Os governos, particularmente o governo dos Estados Unidos, eram os porta-vozes, os que conduziam formalmente as negociações, mas, na verdade, os interesses que estavam defendendo eram diretamente os das corporações. Eram os grandes atores ocultos por trás dos TLC e do projeto da ALCA.

A novidade no novo esquema da ASPAN é que estes atores saem da escuridão, passam ao primeiro plano e esta relação se inverte: os grupos empresariais falando entre si, com a presença dos governos, que depois tentarão traduzir em políticas, em mudanças de regulamentos, em mudança das leis, etc, os seus acordos. Já não lhes bastou com privatizar as empresas públicas; estão privatizando a política como tal. Os empresários nunca foram os que definiam diretamente a política econômica.

A ASPAN começa numa reunião, chamada, digamos, "Um encontro para a prosperidade da América do Norte”, que eram encontros trinacionais de empresários.

Dos acordos operativos que estão adotando na ASPAN, um deles é criar comitês trinacionais, que eles chamam de "capitães da indústria", por setores visando à definição de um plano estratégico de desenvolvimento do setor na região da América do Norte. Quer dizer, a Ford se multiplica ou se divide em três: a Ford diretamente corporativa nos Estados Unidos, subgerente da Ford no México, subgerente da Ford no Canadá, e decidem qual é a estratégia para o setor automotivo na América do Norte. É a corporação Ford falando com um espelho, com os seus empregados, com os diretores das empresas automotivas no Canadá e no México, para acordarem o plano estratégico que lhes apresentam aos governos para que seja traduzido e implementado em políticas econômicas concretas.

Há um esquema para incorporar o aspecto da segurança; segundo item, privatizar diretamente as negociações; e o terceiro aspecto novidoso deste esquema é talvez, para lembrar uma frase de nossos avós clássicos, aquela frase de Engels em que colocava que quando mediante os mecanismos da democracia formal o povo pode estar a ponto de tomar o poder, como o zero do termômetro ou o 100, mudam as regras do jogo; a água ou se congela ou entra em ebulição, e apesar de estar falando sobre as democracias burguesas, os primeiros que quebrarão as regras são eles.

Os Tratados de Livre Comércio têm que passar pelos congressos, e o fato é que cada vez têm mais dificuldades para serem ratificados pelos congressos, incluído o Congresso do império, o Congresso dos Estados Unidos.

Dizem que isto não é um tratado internacional, portanto, não tem que passar pelos congressos. Como são tratados temas que transtornam o marco legal em nossos países, eles apresentarão pedaçinhos, numa altura determinada decidem fazer uma alteração a uma legislação, num outro momento alteram outra; implementam-se decretos do executivo, mudanças de normas operativas, normas de funcionamento, stándares, nunca o pacote completo.

Os Tratados de Livre Comércio, apesar de que foram negociados às nossas costas e às costas em geral de todos os povos, cedo ou tarde se traduzem num texto escrito que vai para os congressos e sabemos o que pactuaram. Tentam que nunca saibamos o que pactuaram, apenas veremos pedaçinhos dessa estratégia, porque nunca vai traduzir-se num texto integrado.

Vou concluir com uma anedota, para que compreendamos, na área da segurança, até que grau de sofisticação chegaram os acordos e os mecanismos operativos de integração dos aparelhos de segurança.

Há algum tempo saiu um avião de Toronto para o México com turistas que foram de férias para Porto Vallarta. Quando o avião estava na pista, revendo um pouco mais detalhadamente a lista de passageiros descobrem que há alguém da lista de terroristas de Bush.

Logo que avião entra ao espaço aéreo norte-americano – que de Toronto ao espaço aéreo norte-americano só tem que passar os Grandes Lagos, não é mais do que isso, e num avião a jacto isto apenas são alguns minutos-, e já estavam dois F-16 ao lado do avião. O avião é tirado do espaço aéreo norte-americano e escoltado até território mexicano, foi obrigado a pousar na parte militar do aeroporto e esse senhor foi preso e a família dele teve que retornar.

Imaginem a sensação dos pobres 200 turistas que estavam lá, ver ao lado do avião, dois F-16 armados que o desviam da rota.

Depois resulta que não era o terrorista que eles esperavam, e lhe dizem: “Você desculpe, pode continuar de férias, e ligue para a sua família para que eles venham a acompanhá-lo.“

JORGE CORONADO (Costa Rica, Aliança Social Continental)

A luta contra o livre comércio na região tem diversos aspectos. Um dos projetos mais avassaladores que foi colocado sobre infra-estrutura, de apropriação de nossa biodiversidade, é o Plano “Puebla-Panamá”, uma estratégia que não é apenas de apropriação de nossos recursos, senão parte de uma estratégia militar do império que vai desde o sul do México até a Colômbia, passando pela América Central.

Na luta contra as represas hidrelétricas, que desloca e violenta os territórios indígenas e camponeses, tivemos casos nos quais mediante a repressão militar foram deslocadas diversas comunidades indígenas e camponesas da região.

Temos o componente da luta contra a mineração. Multinacionais canadenses, européias, estadunidenses seguiram esta estratégia de apropriação.

Encaramos a privatização dos serviços públicos: a energia elétrica, a água, as telecomunicações; a luta no setor camponês pela defesa das sementes, contra o patenteamento dos seres vivos e contra a perda da soberania perante os transgênicos.

Lutamos contra a flexibilidade laboral, um dos eixos orientados ao setor e, logicamente, contra todo o desmantelamento de nossa pequena produção camponesa.

Também a luta contra o tema da propriedade intelectual, que priva nossa previdência do uso de medicamentos genéricos, que são o principal eixo de distribuição que possuem nossos institutos de previdência social na região.

Fator fundamental nesta luta contra o livre comércio tem sido a luta contra os Tratados de Livre Comércio e, designadamente, contra os Tratados de Livre Comércio com os Estados Unidos, aprovados a sangue e fogo na Guatemala, em Honduras, em El Salvador e na Nicarágua. E isso não é uma frase retórica.

Na Guatemala, companheiros de luta foram assassinados por serem contrários à aprovação do mesmo. Essa luta nos tem permitido garantir um eixo articulador e mobilizador da maior unidade do movimento popular na região.

No caso do Parlamento hondurenho, os deputados abandoaram-no, rompendo o marco mínimo da legalidade institucional.

Temos expressado, no seio do movimento popular, que não significa uma derrota. Perdemos uma batalha, mas isto nos permitiu ganhar em organização, em unidade e em experiência de luta contra o livre comércio.

O Movimento Social Popular e o povo da Costa Rica, que têm impedido até os nossos dias a aprovação do TLC nesse país, dando origem à unidade com diversos setores acadêmicos, políticos e até empresariais, para criar uma grande frente nacional de luta diversa e heterogênea, conseguiram até os nossos dias parar o governo costarriquenho, a direita neoliberal, que ainda na pode aprovar o TLC. Atualmente falasse da possibilidade de que o tema do TLC na Costa Rica se defina num referendo.

Estamos às portas de uma jornada fundamental na Costa Rica em termos de poder impedir o avanço da agenda neoliberal; uma derrota deste tratado significaria, simbolicamente, continuar somando vitórias, como a de estagnar e deter a ALCA.

Hoje precisamos da solidariedade do movimento popular, pedimos às organizações sociais e populares para que viajem a Costa Rica como observadores internacionais. A direita prepara-se para estimular, se for possível, uma fraude que lhe garanta ganhar uma batalha que tem perdida, e poder contar com observadores internacionais do movimento popular, será um aporte importante de solidariedade ativa e militante com nossa luta.

Hoje, após um ano, em nenhum país da América Central o TLC tem gerado nem mais emprego, nem mais investimentos, nem melhores condições da balança comercial. Hoje lançamos por toda a região a divisa de reforma agrária, de soberania e segurança alimentar, como eixo principal para nossos países eminentemente agrícolas.

Hoje nem só os Estados Unidos, mas também os europeus querem apropriar-se de uma das regiões mais ricas em biodiversidade e em recursos naturais. Hoje mais do que nunca o eixo articulador de nossos diversos movimentos na região centro-americana é enfrentar o livre comércio em suas múltiplas manifestações, e tomara que este encontro nos dê elementos de articulação, eixos de luta, eixos de ação conjunta, que nos permitam no hemisfério todo avançar como única força popular.

Não desmaiaremos em nossos esforços de organização e de luta até atingir um novo mundo.

JAIME ESTAY (Chile, coordenador da Rede de Estudos de Economia Mundial, REDEM, e atualmente professor da Universidade de Puebla, no México).

Esta crise tem a ver, definitivamente, com o não cumprimento manifesto das promessas que acompanharam o conjunto de reformas que começaram a ser aplicadas na América Latina nos anos oitenta.

Sob a bandeira do livre comércio nos disseram que conseguiríamos que nossas economias crescessem, que diminuíssem os níveis de desigualdade em nossos países, as distâncias entre nossos países e o mundo avançado, e, em resumo, que conseguiríamos avançar no desenvolvimento. Nalguns países até se falou de avançar rumo ao Primeiro Mundo.

No que respeita à nova integração ou a este regionalismo aberto que começou há mais de 15 anos, se expressou pôr a integração latino-americana, ou aquilo que temos qualificado como integração latino-americana, ao serviço da abertura. Desenvolveu-se todo um discurso no sentido de que fazia falta uma integração para abrir, uma integração que não fosse aquela velha integração protecionista, mas sim uma integração através da qual lográssemos as melhores condições para nos inserir nesta economia global, nestes mercados que, supostamente, ao funcionar livremente, fariam com que os nossos países conseguissem os melhores resultados possíveis.

Essa relação entre integração e abertura, essa idéia de que o objetivo supremo da integração tinha que ser a abertura de nossos países, foi efetivamente cumprida, nossos países abriram-se realmente, e real e infelizmente o fundamental da integração latino-americana consistiu em pô-la ao serviço dessa abertura.

Alguns funcionários falaram daquilo que chamavam “etapa pragmática da integração”. Avancemos como possamos, era mais ou menos assim o lema. Se o que queremos é comerciar ainda mais, concentremo-nos em comerciar ainda mais; se o que desejamos é assinar uma multidão de pequenos acordos entre países, acordos bilaterais ou entre três ou quatro países, avancemos nesse rumo, e nalgum momento poderemos chamar tudo isso de integração latino-americana.

O balanço é, às claras, negativo. Acho que há um reconhecimento cada vez maior em diferentes níveis daquilo que temos chamado de integração latino-americana não é integração, é comércio; e não é latino-americano, mais sim uma rede de acordos assinados entre diferentes países da região, que de maneira nenhuma deram lugar a um processo que tenha um caráter efetivamente latino-americano. A abertura, a cujo serviço supõe-se que devíamos pôr a integração, ainda não deu os resultados que nos anunciaram em termos de crescimento econômico, de diminuição das desigualdades e de resultados do tão desejado desenvolvimento que se dizia que tinha que estar presente.

Deveríamos salientar que estamos assistindo a um deterioro extremo de um estilo de integração que tinha muito bem definido para que, como e para quem se integrava.

Em resumo, refiro-me a uma integração pensada partindo dos fundamentos do neoliberalismo, que fracassou, tanto em termos de seus próprios objetivos quanto em termos dos objetivos que todos temos direito a exigir e a esperar de um verdadeiro processo de integração.

A nova integração latino-americana se apoiou fortemente nas políticas e nas propostas que vinham de Washington. Em boa medida, essas propostas estadunidenses transformaram-se em algo que termina comendo sua própria criatura. Apenas o fato de assinar os Tratados de Livre Comércio põe em crise tanto a comunidade andina quanto o Mercado Comum Centro-americano.

Parte importante da crise da atual integração latino-americana tem a ver como o avanço do projeto hemisférico estadunidense, não pela via da ALCA, que foi freado, e sim pela via da assinatura de diferentes Tratados de Livre Comércio.

Ganha maior destaque no atual panorama da integração a aparição de alternativas. Em muitos sentidos, a ALBA sustenta-se em princípios que são radicalmente diferentes aos dessa integração que está em crise.

Há muitas funções que restam por definir e fronteiras por delimitar: o significado que têm conceitos tais como “livre comércio”, “desenvolvimento nacional”, “liberdade de mercado”, “segurança e soberania alimentar”, etc. O que podemos afirmar é que estamos assistindo, no cenário hemisférico e latino-americano, a uma crescente insurgência a respeito do predomínio do neoliberalismo.

Até aqui as opiniões de três personalidades, que sintetizam as daqueles que participaram no debate sobre os Tratados de Livre Comércio. São pontos de vista muito sólidos vindos de uma amarga realidade, que enriqueceram minhas idéias.

Recomendo aos leitores prestarem atenção às complexidades da atividade humana. É a única forma de ver mais ao longe.

O espaço acabou. Hoje não devo acrescentar mais nada.

Fidel Castro Ruz

16 de maio de 2007

(6h12)

Originalamente publicado na Agência Cubana de Notícias

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Reflexões do Fidel Castro

O que aprendemos do VI Encontro Hemisférico de Havana

Maria Luisa Mendonça trouxe ao Encontro de Havana o impactante documentário sobre o corte manual da cana no Brasil.

Numa síntese que elaborei, como na reflexão anterior, com parágrafos e frases do original, a essência do que Maria Luisa expressou foi o seguinte:

Sabemos que a maioria das guerras, nas últimas décadas, tem como fator central o controle das fontes de energia. O consumo de energia é garantido aos setores privilegiados, tanto nos países centrais quanto nos países periféricos, enquanto a maioria da população mundial não tem acesso aos serviços básicos. O consumo per capita de energia nos Estados Unidos é de 13 000 quilowatts, ao passo que a média mundial é de 2 429 e na América Latina é de 1 601.

O monopólio privado de fontes de energia é garantido por cláusulas em Acordos de Livre Comércio bilaterais ou multilaterais.

O papel dos países periféricos é produzir energia barata para os países ricos centrais, o que representa uma nova fase da colonização.

É preciso desmitificar a propaganda sobre os supostos benefícios dos agrocombustíveis. No caso do etanol, a cultura e processamento da cana-de-açúcar contamina os solos e as fontes de água potável, porque utiliza uma grande quantidade de produtos químicos.

O processo de destilação do etanol produz um resíduo denominado vinhoto. Por cada litro de etanol produzido são gerados de 10 a 13 litros de vinhoto. Uma parte deste resíduo pode ser utilizada como fertilizante, mas a maior parte contamina rios e fontes de águas subterrâneas. Se o Brasil produz 17 ou 18 bilhões de litros de etanol anualmente, isso significa que, pelo menos, 170 bilhões de litros de vinhoto se depositam nas regiões dos canaviais. Imaginem o impacto no meio ambiente.

A queima da cana-de-açúcar, que serve para facilitar a colheita, destrói grande parte dos microorganismos do solo, contamina o ar e causa muitas doenças respiratórias.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil decreta quase todos os anos em São Paulo –que representa 60% da produção de etanol do Brasil- uma situação de emergência, porque as queimas levaram a umidade do ar até níveis extremamente baixos, entre 13% e 15%. O que faz com que seja impossível respirar nesse período na região de São Paulo onde se colheita a cana.

Como sabemos, a expansão da produção de agroenergia é de grande interesse para as empresas que produzem organismos geneticamente modificados ou transgênicos, como Monsanto, Syngenta, Dupont, Bass e Bayer.

No caso do Brasil, a empresa Votorantim desenvolveu tecnologias para a produção duma cana transgênica, que não é comestível, e sabemos que muitas empresas estão desenvolvendo este mesmo tipo de tecnologia e, como não há meios para evitar a contaminação dos transgênicos nos campos de culturas nativas, esta prática coloca em risco a produção de alimentos.

No que se refere à desnacionalização do território brasileiro, grandes empresas adquiriram usinas açucareiras no Brasil: Bunge, Novo Group, ADM, Dreyfus, além dos megaempresários George Soros e Bill Gates.

Como resultado disso, sabemos que a expansão da produção de etanol provocou a expulsão de camponeses de suas terras e criou uma situação de dependência do que denominamos a economia da cana, porque não é que a indústria da cana gere empregos, pelo contrário, gera desemprego, porque essa indústria controla o território. Isso significa que não há espaços para outros setores produtivos.

Ao mesmo tempo, temos a propaganda da eficiência dessa indústria. Sabemos que se baseia na exploração de uma mão-de-obra barata e escrava. Os trabalhadores são remunerados segundo a quantidade de cana cortada e não pelas horas trabalhadas.

No estado de São Paulo, que é onde está a indústria mais moderna -moderna entre aspas, evidentemente- e é o maior produtor do país, a meta de cada trabalhador é cortar entre 10 e 15 toneladas de cana por dia.

Um professor da universidade de Campinas, Pedro Ramos, fez estes cálculos: nos anos 80 os trabalhadores cortavam aproximadamente 4 toneladas por dia e recebiam o equivalente a mais ou menos 5 dólares. Atualmente, para conseguir 3 dólares por dia, é preciso cortar 15 toneladas de cana.

O próprio Ministério do Trabalho do Brasil fez um estudo no qual diz que antigamente 100 metros quadrados de cana somavam 10 toneladas; hoje, com a cana transgênica, é preciso cortar 300 metros quadrados para alcançar 10 toneladas. Então, os trabalhadores têm que trabalhar três vezes mais para cortar 10 toneladas. Este padrão de exploração causou sérios problemas de saúde e até a morte aos trabalhadores.

Uma pesquisadora do Ministério do Trabalho em São Paulo diz que o açúcar e o etanol do Brasil estão banhados de sangue, suor e morte. No ano 2005 o Ministério do Trabalho em São Paulo registrou 450 mortes de trabalhadores por outras causas, como assassinatos e acidentes, porque a transportação para as usinas é muito precária e também em conseqüência de doenças como paradas cardíacas e câncer.

Segundo Maria Cristina Gonzaga, que fez a pesquisa, esta investigação do Ministério do Trabalho mostra que nos últimos cinco anos 1 383 trabalhadores canavieiros morreram apenas no Estado de São Paulo.

O trabalho escravo também é comum neste setor. Geralmente os trabalhadores são migrantes do nordeste ou de Minas Gerais, que são seduzidos por intermediários. Normalmente o contrato não é feito diretamente com a empresa, senão através de intermediários, que no Brasil os chamamos de “gatos”, que escolhem mão-de-obra para as usinas.

Em 2006, só em São Paulo, a Procuradoria do Ministério Público inspecionou 74 usinas, e todas foram processadas.

Apenas em março de 2007, os procuradores do Ministério do Trabalho resgataram 288 trabalhadores em situação de escravidão em São Paulo.

Nesse próprio mês, no Estado de Mato Grosso, foram resgatados 409 trabalhadores numa usina que produz etanol; entre eles havia um grupo de 150 indígenas. Nessa área do centro do país, em Mato Grosso, é comum utilizar indígenas no trabalho escravo da cana.

Todos os anos centenas de trabalhadores sofrem condições análogas nos canaviais. Como é que são estas condições? Trabalham sem um registro formal, sem equipamentos de proteção, sem água ou alimentação adequada, sem acesso aos banheiros e com habitações muito precárias; além disso, eles têm que pagar pela habitação, pela comida, que é muito cara, e precisam pagar por equipamentos como botas e facões e, claro, no caso de acidentes de trabalho, que são muitíssimos, não recebem o tratamento adequado.

Para nós, a questão essencial é eliminar o latifúndio, porque por trás desta imagem moderna há um problema fundamental, que é o latifúndio no Brasil e, evidentemente, noutros países da América Latina. Também é preciso uma política séria de produção de alimentos.

Com isto queria apresentar um documentário que fizemos no Estado de Pernambuco com os trabalhadores canavieiros, que é uma das regiões onde mais se produz a cana-de-açúcar, e assim vocês verão realmente como são as condições.

Este documentário foi feito junto da Comissão Pastoral da Terra no Brasil e dos sindicatos dos trabalhadores florestais do Estado de Pernambuco.

Assim conclui a sua intervenção a destacada e aplaudida dirigente brasileira.

A seguir, exponho as opiniões dos cortadores de cana que aparecem no material fílmico entregado por Maria Luisa. Quando no documentário não aparecem identificadas as pessoas, indica-se a sua condição de homem, mulher ou jovem. Não as incluo todas pela sua extensão.

Severino Francisco da Silva.- Quando eu tinha 8 anos, meu pai mudou-se para o engenho do Junco. E quando cheguei, eu quase fazia 9, meu pai começou a trabalhar e eu atava cana com ele. Trabalhei uns 14 ou 15 anos no engenho do Junco.

Uma mulher.- Há 36 anos que moro neste engenho. Me casei aqui e teve 11 filhos.

Um homem.- Há muitos anos que trabalho no corte da cana; não sei nem contar.

Um homem.- Comecei a trabalhar com 7 anos e minha vida é cortar cana e desmatar.

Um jovem.- Nasci aqui, tenho 23 anos, desde os 9 anos corto cana.

Uma mulher.- Trabalhei 13 anos aqui na Planta Salgado. Eu semeava cana, semeava adubo, limpava cana, capim.

Severina Conceição.— Eu sei fazer todos esses trabalhos do campo: semear adubo, semear cana. Eu fazia tudo com “o bombo” deste tamanho (refere-se à gravidez) com o cabaz a um lado, e continuava trabalhando.

Um homem.— Trabalho, todos os trabalhos são bem difíceis, porém a colheita da cana é o pior que há no Brasil.

Edleuza.— Chego a casa e lavo a louça, arrumo a casa, cuido do serviço doméstico, faço as coisas. Cortava cana, e às vezes chegava a minha casa e nem podia lavar a louça, tinha as mãos feridas, cheias de calos.

Adriano Silva.— Acontece que o administrador exige muito no trabalho. Há dias que a gente corta cana e recebe o ordenado, mas há dias que não recebe nada. Às vezes é suficiente, noutras não.

Misael. — A situação aqui é perversa, o feitor quer diminuir o peso da cana. Disse que o que nós cortemos aqui é o que temos, e acabou. Trabalhamos como escravos, entendeu? Assim não se pode!

Marcos. — A colheita da cana é um trabalho escravo, é um trabalho difícil. Saímos às 3hrs da manhã, chegamos às 8hrs da noite. Isso apenas é bom para o patrão, porque cada dia que passa ele ganha mais e o trabalhador perde, diminuindo a produção e o patrão fica com tudo.

Um homem. — Às vezes deitamo-nos sem ter tomado banho, não há água, tomamos banho num riacho que passa aí embaixo.

Um jovem. — Aqui não há lenha para cozinhar, se a gente quer comer, tem que sair e buscar lenha.

Um homem. — O almoço, é o que a gente traz da casa, traz uma ração, é o que arranjar, sob esse sol, faz o que pode na vida.

Um jovem. — Todo aquele que trabalha muito precisa de uma boa alimentação. Enquanto o dono da usina tem privilégios, do bom e do melhor, e nós aqui sofrendo.

Uma mulher. — Passei muita fome. Muitas vezes deitei com fome, às vezes não tinha nada para comer, nem para dar a minha filha; nalgumas ocasiões ia procurar sal, que era o que encontrávamos com maior facilidade.

Egidio Pereira. — A gente tem dois ou três filhos, e se não se cuida, morre de fome; não dá para viver.

Ivete Cavalcante. — Aqui não existe o salário, há que limpar uma tonelada de cana por oito reais; a gente ganha conforme o que consegue cortar: se a gente corta uma tonelada, ganha oito reais, não há salário fixo.

Uma mulher. — Salário? Eu não sei nada disso.

Reginaldo Souza. — Às vezes eles pagam em dinheiro. Nesta época eles estão pagando em dinheiro; mas, no inverno pagam tudo com vales.

Uma mulher. — O vale, a gente trabalha, ele anota tudo num papelzinho, entrega-o à pessoa para que compre no mercado. A pessoa não vê o dinheiro que ganha.

José Luiz. — O feitor faz tudo o que quiser com as pessoas. O que acontece é que pedi para “calcular a média” da cana, ele não quis. Isto é: neste caso, ele obriga as pessoas a trabalharem pela for­ça. Desta maneira a pessoa trabalha grátis para a empresa.

Clovis da Silva. — Isso nos mata! A gente passa meio-dia cortando cana, acha que vai ganhar algum dinheiro, e quando ele vai medir, constatamos que o trabalho não valeu nada.

Natanael. — O caminhão que transporta o gado aqui é utilizado para levar os trabalhadores, é pior que com o cavalo do dono; porque quando o dono coloca seu cavalo no caminhão, ele lhe põe água, serradura no chão para que o cavalo não se dane os cascos, pasto, uma pessoa para acompanhá-lo; e os trabalhadores, que se acomodem como puderem: ele entrou, fechou a porta e acabou. Eles tratam os trabalhadores como se fossem animais. O “Pro-Álcool” não ajuda os trabalhadores, só aos fornecedores de cana, ajuda os patrões e os enriquece cada vez mais; porque se gerasse emprego para os trabalhadores, para nós seria fundamental, mas não gera empregos.

José Loureno. — Eles têm todo esse poder porque na Câmara, estadual ou federal, têm um político que representa essas usinas açucareiras. Há donos que são deputados, ministros, parentes dos senhores de engenho, que facilitam essa situação para os donos e para os senhores de engenho.

Um homem. — Parece que nossa luta não acaba nunca. Não temos férias, nem o décimo terceiro, tudo se perde. Além disso, a quarta parte do salário que é obrigado receber, não a recebemos, é com isso que no fim do ano compramos roupa para nós e para nossos filhos. Eles não nos entregam nada disso, e vemos que a situação fica cada vez mais difícil.

Uma mulher. — Eu sou trabalhadora registrada, e jamais tive direito a nada, nem a um atestado médico. Quando ficamos grávidas, temos direito a um atestado médico, mas eu não tive esse direito, garantia de família; também não tive o décimo terceiro, sempre recebia alguma coisinha, depois não recebi mais nada.

Um homem. — Há 12 anos que ele não paga nem o décimo terceiro nem as férias.

Um homem. — A gente não pode adoecer, trabalha dia e noite no caminhão, no corte de cana, de madrugada. Eu perdi minha saúde, eu era forte.

Reinaldo. — Um dia eu estava com umas sapatilhas nos pés; quando dei um golpe de facão para cortar a cana que atingiu um dos meus dedos, me cortou, terminei o trabalho e regressei para a casa.

Um jovem. — Não há botas, trabalhamos assim, muitos trabalham descalços, não há condições. Disseram que a usina ia doar botas. Há uma semana que ele feriu o pé (assinala) porque não há botas.

Um jovem. — Eu estava doente, estive assim durante três dias, não recebi salário, não me pagaram nada. Fui ao médico, pedi o atestado e não mo deram.

Um jovem. — Houve um rapaz que chegou de “Macugi”. Estava trabalhando, no meio do trabalho começou a se sentir mal, teve que vomitar. O esforço é grande, o sol é muito quente e a gente não é de ferro, o corpo do ser humano não resiste.

Valdemar. — O veneno que utilizamos provoca muitas doenças (refere-se aos herbicidas). Ocasiona vários tipos de doenças: câncer de pele, nos ossos, vai penetrando no sangue e dana a saúde. Sentem-se náuseas, a gente até cai.

Um homem. — No período entre as colheitas praticamente não há trabalho.

Um homem. — O trabalho que o patrão manda a fazer tem que fazê-lo; porque vocês sabem, se não o fazemos... Nós não mandamos; eles são quem mandam. Se te dão uma tarefa, tem que fazê-la.

Um homem. — Aqui estou à espera de que nalgum dia possa ter um pedacinho de terra para terminar minha vida no campo, para poder encher minha barriga, a dos meus filhos e a dos meus netos, que vivem comigo.

Será que há algo a mais?

Fim do documentário.

Ninguém fica mais agradecido do que eu por este testemunho e pela apresentação de Maria Luisa, cuja síntese acabo de elaborar. Fazem com que venham à minha memória os primeiros anos de minha vida, uma idade na qual os seres humanos costumam ser muito ativos.

Nasci num latifúndio canavieiro, de propriedade privada, rodeado pelo norte, pelo leste e pelo oeste por grandes extensões de terra propriedade de três multinacionais norte-americanas que, em conjunto, possuíam mais de 250 mil hectares de terra. O corte era manual, em cana verde, nessa altura não se usavam herbicidas, nem sequer fertilizantes. Uma plantação podia durar mais de 15 anos. A mão-de-obra era tão barata que as multinacionais ganhavam muito dinheiro.

O dono da quinta canavieira em que eu nasci era um imigrante de origem galega e família camponesa pobre, praticamente analfabeto, a quem trouxeram primeiramente como soldado no lugar de um rico que pagou para iludir o serviço militar e quando acabou a guerra o repatriaram para a Galiza. Voltou a Cuba por si próprio, mesmo como o fizeram inúmeros galegos que viajaram aos países da América Latina. Trabalhou como peão de uma importante multinacional, a United Fruit Company. Tinha qualidades como organizador, recrutou um elevado número de jornaleiros como ele, virou contratista e comprou finalmente terras na zona que limitava com o sul da grande empresa norte-americana com a mais-valia acumulada. Na região oriental a população cubana, de tradição independentista, tinha crescido notavelmente e carecia de terra; contudo o peso principal da agricultura do oriente do país, no começo do século passado, recaia sobre os escravos libertados poucos anos antes ou sobre os descendentes dos antigos escravos e sobre os imigrantes procedentes do Haiti. Os haitianos não tinham família. Viviam sozinhos em suas deploráveis vivendas de colmo e tábuas de palmeira, agrupados em casarios, com a presença de apenas duas ou três mulheres entre eles. Durante os breves meses de safra se realizavam lutas de galos. Ali gastavam os haitianos suas miseráveis rendas, e o resto utilizavam-no para comprar alimentos, que passavam por muitos intermediários e eram caros.

O proprietário de origem galega vivia ali, na quinta canavieira. Apenas saia para visitar as plantações e falava com todo aquele que o procurava ou precisava de alguma coisa. Muitas vezes acedia aos pedidos, por razões mais humanitárias do que econômicas. Podia tomar decisões.

Os administradores das plantações da United Fruit Company eram norte-americanos cuidadosamente selecionados e bem remunerados. Viviam com suas famílias em mansões imensas, em lugares escolhidos. Eram como deuses distantes, que os trabalhadores famintos mencionavam com respeito. Jamais eram vistos nos cortes, onde trabalhavam seus subordinados. Os donos das ações das grandes multinacionais viviam nos Estados Unidos ou em qualquer outra parte do mundo. Os gastos das plantações estavam muito controlados e ninguém podia aumentar um cêntimo.

Conheço muito bem a família do segundo matrimônio do imigrante de origem galega com uma jovem camponesa cubana, muito pobre que, mesmo como ele, não pôde ir à escola. Era muito abnegada e dedicada de mais à família e às atividades econômicas da plantação.

Aqueles que no estrangeiro leiam estas reflexões pela Internet ficarão surpreendidos ao saberem que esse proprietário era meu pai. Sou o terceiro filho dos sete desse matrimônio, que nascemos no quarto de uma casa de campo, muito longe de qualquer hospital, assistidos pela mesma parteira, uma camponesa dedicada em corpo e alma a sua tarefa, que só contava com seus conhecimentos práticos. A Revolução entregou aquelas terras todas ao povo.

Só me resta acrescentar que apoiamos totalmente o decreto de nacionalização da patente a uma multinacional farmacêutica para a produção e comercialização no Brasil de um medicamento contra a AIDS, o Efavirenz, de preço abusivamente alto, — igual que muitos outros —, assim como também a recente solução mutuamente satisfatória do diferendo com a Bolívia a respeito das duas refinarias de petróleo.

Reitero que sentimos profundo respeito pelo irmão povo do Brasil.

Fidel Castro Ruz

14 de maio de 2007

5:12 p.m.


Publicado originalmente na Agência Cubana de Notícias

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Friday, May 11, 2007

Nota: A Venezuela produz cerca 482 mil barris por dia de petróleo pesado. A nacionalização do petróleo pesado vai dar mais rendimentos para benefeciar a população.

Pdvsa produce 482 mil bd de crudo mejorado en empresas nacionalizadas

Por: Panorama Digital / Prensa Pdvsa
Fecha de publicación: 10/05/07

Caracas.- A sólo una semana de la nacionalización de los convenios de asociación de la Faja Petrolífera del Orinoco y, por ende, de la transferencia de las operaciones de las empresas Sincor, Ameriven, Petrozuata y Cerro Negro a Petróleos de Venezuela, la producción de crudo mejorado alcanzó los 482 mil barriles diarios.

Esta cifra corresponde a la suma de la producción de cada uno de los mejoradores de las extintas asociaciones, traducida en productos como zuata sweet, zuata medium y hamaca blend, entre otros. Esta producción de crudo mejorado es reflejo de la continuidad y responsabilidad operacional de los trabajadores que hoy forman parte de la estatal petrolera.

Adicionalmente, se reinició la actividad de perforación en el área de Corocoro, Convenio de Exploración a Riesgo y Ganancias Compartidas, tal como estaba previsto el primero de mayo, bajo la responsabilidad de Pdvsa, luego de asumir las operaciones que venía realizando la empresa Conoco Philips.

Como se recordará, la transferencia de las operaciones a Pdvsa se hizo dando cumplimiento al Decreto Ley 5.200 de Nacionalización de Recursos Energéticos, en el marco de la política de plena soberanía petrolera que impulsa el Gobierno.


Desde el pasado 1 de mayo, Pdvsa asumió el control de esas asociaciones, que tienen plazo hasta el próximo 26 de junio para firmar su conversión en empresas mixtas, en las cuales la estatal petrolera tendrá por lo menos el 60% de las acciones.

En las asociaciones participan las estadounidenses Exxon-Mobil, Chevron, Conoco-Phillips, la francesa Total, la británica British Petroleum y la noruega Statoil.

Fonte: Aporrea
Comunidade Portuguesa de Ambientalistas
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