Thursday, December 01, 2005

Junta-te a nós e observa a crise a formar-se

Por Kenneth S. Deffeyes


Porque é esta Acção de Graças diferente de todas as outras Acções de Graças? É o pico da produção mundial de petróleo. Devíamos ter dado graças pelo automóvel, o avião, as locomotivas e os navios a diesel, as vias rápidas de duas faixas, as casas aquecidas, pelos plásticos e fibras sintéticas e um enorme leque de petroquímicos. O nosso jantar de Acção de Graças foi produzido com fertilizantes, gasóleo agrícola, pesticidas e a sua distribuição possibilitada pelo petróleo e o gás natural. Richard Katz enviou uma foto da sua caçarola de batata-doce de Acção de Graças, decorada com o pico de Hubbert, desenhado com mini-marshmallows.



Pelos números, tenho de esperar até que o Oil & Gás Journal (O&GJ) publique as estatísticas de 2005, no final do ano. Olhar para os números mensais da Agência Internacional de Energia (AIE) não ajuda muito. O país indicado pela AIE como o terceiro maior produtor do mundo chama-se “Outros”. Em nota de rodapé dizem que “Outros” é obtido subtraindo o resto dos países listados ao total mundial. Espera ai. Como é que eles chegaram ao total mundial sem ser somando? É engraçado, excepto os meus impostos que estão a pagar este exercício da AIE.

A produção total mundial de petróleo do O&GJ para 2005 será provavelmente maior que em 2004. Isso é o despertar do Admirável Mundo Novo, ou estamos a queimar a vela dos dois lados? Com estes preços do petróleo altos, qualquer produtor que suspeite que a produção de um dos seus poços tenham caído abruptamente, chamará a Halliburton para no dia seguinte de manhã lhe resolverem o problema. Claro, suspeito que estamos a apressar o pico ao bombearmos todos os barris de petróleo possíveis.

As grandes companhias petrolíferas não o comentam directamente, mas podemos tirar conclusões das suas acções. Os anúncios da Chevron dizem que gastamos dois barris de petróleo por cada barril que encontramos. A ExxonMobil diz que desde meados dos anos 1980 consumimos mais petróleo que o que descobrimos. A Shell anunciou que se irão concentrar na exploração de gás natural e não na do petróleo.

Os lucros das grandes companhias amontoam-se até às dezenas de milhares de milhões de dólares por trimestre. Poupam dinheiro, readquirem acções e declaram dividendos. Não estão a investir em força em novas infra-estruturas. Se a produção de petróleo parou de crescer e está prestar a entrar em declínio, ninguém precisa de novas refinarias, novos oleodutos, ou novo petroleiros. Mais importante ainda, as grandes companhias não estão a aumentar os investimentos em perfuração de pesquisa. O que oiço por todo o meio petrolífero é “Não existem por aí boas perspectivas.” Claro que existe agitação para se abrirem áreas para a exploração que de momento estão fechadas. A implicação deste apelo é que o acesso a perfuração adicional “resolverá” o nosso problema do petróleo. Cada bocadinho ajuda, mas cabe às companhias mostrar que estes não são apenas bocadinhos.

O que podemos fazer? Tenho estas três categorias: acções que podemos tomar imediatamente, métodos cuja engenharia já está feita e sonhos futuristas.

Imediatos: Um limite de velocidade de 90 Km/h (vão-me odiar no Montana), ensinar os miúdos a apagar as luzes quando saiem de um quarto, abrir as janelas da casa para a aquecer e arrefecer quando o tempo não é rigoroso.

Engenharia: Energia nuclear, automóveis a diesel de alta eficiência, turbinas eólicas, gasificação de carvão (com o dióxido de carbono vendido para a recuperação de petróleo avançada).

Sonhos: Células de combustível a hidrogénio, álcool de milho, células solares. Não percam a esperança num Projecto Manhattan ou num programa Apollo.

O lado do “pico do petróleo” no debate está a ganhar momento, mas temos um longo caminho a percorrer. A edição de 18 de Novembro de 2005 da revista Science tinha nas páginas 1106-1108 mais um tratamento “ele disse, ela disse”. Uns poucos dos nossos opositores publicaram na Internet comentários directos e maldosos. Nós também podemos ser mauzinhos. Estou a começar uma lista honorífica de nomes e de datas que anunciaram para a chegada do pico. A lista é também conhecida por “Cornucópia do Cemitério”. James Medlin ganhou um lugar de honra por fazer circular um artigo longo e interessante, acompanhado por uma nota dizendo que o petróleo já tinha passado o pico antes do furacão Katrina. T. Boone Pickens e Matt Simmons já estão listados. E tenho lugares guardados para Daniel Yergin, Michael Lynch e Thomas Ahlbrandt. Podem inscrever-se assim que estiverem prontos a admitir que o pico chegou.

Não vejo razões para retirar a minha previsão de Acção de Graças, 2005.

Este artigo é uma tradução original de PicoDoPetróleo.net.

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