Thursday, November 17, 2005

A agricultura industrial em apuros - impactos do Pico do Petróleo

A agricultura consome grandes quantidades de petróleo e gás natural para encher o depósito ao tractor, transportar os produtos, prover os pesticidas, nutrientes sintéticos e bombear a água através do sistema do irrigação. A elevação dos preços da energia está a ter um particular impacto nos produtores de trigo norte-americanos. O país costumava ser o "celeiro do mundo", mas torna-se agora um importador neto.
Contudo isto não é tão simples como parece, porque os elevados preços do petróleo e do gás natural são ainda devido a alguns andarem a lucrar com a escassez, de forma que os actuais preços de produção não mudaram tanto materialmente. O dinheiro retido pelas elevadas margens de lucro fluí de volta à economia global, beneficiando aqueles que controlam o sistema financeiro e o comércio global de cotações monetárias.
Os hambúrgueres podem continuar a vender-se, se a agricultura americana declinar, mas menos pessoas em outras partes do mundo poderão comer (a linha de pobreza sobe).



O custo crescente de cultivar trigo
Por Andy Porter do Union Bulletin

Ninguém lhe chama a "tempestade perfeita", ainda. Mas por entre subidas em flecha de custos no combustível e no fertilizante, preços baixos para as suas colheitas, crescentes sobrecargas de preços de distribuição e embarque e preocupações com o clima, se este vai ser mais um inverno seco, os agricultores norte-americanos locais que produzem trigo dizem que o futuro parece um tanto negro, por estes dias.
'Eu não estou certo que alguém se tenha apercebido disto, mas os preços da energia estão rapidamente a por em questão a continuação da produção de trigo, a não ser que algo mude em breve', disse Nat Webb, agricultor no Walla Walla County.
Ao longo de um período de tempo relativamente curto, os preços dos combustíveis triplicaram e o custo do fertilizante duplicou, dizem Webb e outros. Ao mesmo tempo o preço de trigo "branco e suave", o tipo que contabiliza 88% do trigo produzido no estado de Washington, está a afundar-se ligeiramente acima de 3 de dólares o alqueire *, "um mínimo de 20 anos", disse Harold Cochran, ex presidente nacional da Associação de Whashington de Produtores de Trigo.

O problema chave, como disse o especialista em gestão agrícola da Universidade Estadual de Washington, Herb Hinman, é que os preços em alta estão a "cortar as margens de lucro dos agricultores, e muitos deles já operam em margens bem estreitas". Combustível e fertilizante são duas constantes com que todos os agricultores têm que lidar na sua contabilidade entre custos e ganhos, disse Cochran, e ultimante "os nossos gastos totais de produção têm subido dramaticamente".
"À três anos atrás eu pagava 80 cêntimos (de dólar) por um galão (para gasóleo) e agora estou a pagar 2.60 dólares por galão," disse Cochran. "O fertilizante subiu de 17 cêntimos a libra ** para 37 cêntimos a libra, mais do que duplicando no último ano. Nós tivemos de lidar com inflação crescente durante anos , mas quando as coisas estão a duplicar e triplicar, não há para onde nos virarmos," disse Cochran.
Na sua quinta, Webb disse que os tractores consomem entre 70 a 100 galões de gasóleo por dia e um veículo combinado pode consumir cerca de 100 galões por dia.
"Os custos de energia que em tempos foi uma das nossas mais pequenas despesas tornaram-se num assunto essencial e ameaçam a nossa capacidade de continuar a cultivar," disse ele.
Brad Tompkins, antigo presidente da Comissão de Trigo de Washington, disse que os preços de combustível e fertilizante "estão a pesar nas mentes de todos".
Nós estamos também a ter que vigiar o preço do gasóleo no mercado de futuros... num dia é um preço, noutro dia é outro," disse ele. O preço do fertilizante, em particular da amónia anídrica ("anhydrous ammonia "), que é largamente utilizada por produtores desta região, também se elevou.



"Os preços de fertilizante estão quase o dobro do que eles costumavam ser... é um situação bastante triste," disse Jack DeWitt, antigo presidente da Washington Wheat Growers Association. O seu filho, Jay DeWitt, assinalou preocupações similares. "Eu acho que a parte pior para mim são os preços do gás natural. O fertilizante de nitrogénio é a minha maior despesa e algo que mais que duplicou ao longo dos últimos 30 meses," disse ele.
Para lidar com estes aumentos, disse DeWitt, "nós estamos a ter que fazer sérios e desconfortáveis ajustamentos na forma como cultivamos, no imediato nos padrões de cultivo e rotação."
"O que nós gostamos de fazer é cultivar trigo de dois em dois anos, mas a viabilidade económica mudou ao ponto de isso ser quase impossível," disse ele. Consequentemente, nós estamos a considerar mudar para outros cultivos, tais como ervilhas secas e estamos a deixar os campos em pousio *** no verão, algo que eu nunca fiz na minha quinta em 15 anos.

Para os agricultores que usam amónia anídrica para fertilizar os seus campos, a razão por de trás do aumento do preço está no preço do gás natural, que é usado para fazer o fertilizante, disse Webb e outros. "Imediatamente antes do furacão Katrina, nós recebemos um aumento de preço de 40 dólares por tonelada," notou Webb. "Depois do Katrina veio outro aumento do preço de mais 100 dólares por tonelada."
Além disso, o momento dos aumentos teve impacto particularmente duro. "Nos últimos anos isto não teria tido o impacto que teve agora, já que muita da fertilização para a colheita do próximo ano estaria completa," Webb disse.
Contudo, com o advento do sistema de sementeira directa ****, o fertilizante é aplicado com a semente, desta forma muito do fertilizante ainda não foi aplicado. Quaisquer poupanças de custos geradas pela sementeira directa, foram engolidas pelos efeitos que o Katrina teve no preço dos fertilizantes.
"A incerteza acerca dos custos e a preocupação com o clima, estão também a surgir num momento em que os agricultores estão a tentar planear orçamentos e adquirir linhas de crédito para a colheita do próximo ano," disse Mark Grant, gestor do Banco de Whitman em Walla Walla. "Basicamente, o combustível está em alta e as pessoas vão ter de orçamentar mais 100% que no ano anterior, e eles pagam imposto de venda (como o IVA em Portugal) em cima disso," disse Grant. Mas a maior preocupação para os agricultores, disse Grant, é que "a humidade desapareceu."

Dois invernos secos sucessivos deixaram os níveis de humidade do solo extremamente baixos. No norte do Walla Walla County, onde Tompkins cultiva, "nós temos as amostras de solo menos húmidas, que eu alguma vez vi. "Aonde nós vamos semear agora, os especialistas diriam que não há humidade suficiente para cultivar... pois então, se nós não tivermos chuvas decentes este inverno, estamos em sarilhos," disse Tompkins. De acordo com o (National Weather Service's Climate Predication Center) Serviço Nacional de Meteorologia, Centro de Previsão Climática, no presente não há indicação clara sobre qual a quantidade de precipitação nos próximos 3 meses. Enquanto as projecções dão uma, acima do normal, precipitação no sudoeste norte-americano, as projecções sazonais dão ao noroeste do Pacífico igual probabilidade a acima do normal, normal, ou abaixo do normal precipitação nos próximos 3 meses. Mas se a última situação suceder, mais um ano seco poderia ser o golpe de misericórdia para os agricultores que estão agora num simples desenrascanço. Ou, como disse Jeff Emtman, presidente da Associação de Whashington de Produtores de Trigo, "as pessoas vão ter sorte se ficarem na mesma, e aqueles que não ficarem poderão ir se abaixo."

* alqueire - do Ár. alkail, medida para cereais
s. m., antiga medida de capacidade variável, para cereais, que corresponde, mais ou menos, a 13 litros, à 6ª parte de um saco e à 60ª do moio;
antiga medida para líquidos correspondente a seis canadas (cerca de 8 litros);
antiga medida de superfície correspondente a 15 625 palmos quadrados;
furo da roda onde está colocado o eixo do carro.

** libra - unidade de massa e peso usada nos países anglófonos, equivalente a 0,4535 kg;
arrátel;
moeda de ouro inglesa;
antiga moeda de prata;
signo do Zodíaco representado pela balança (grafado com inicial maiúscula).

*** pousio - s. m., interrupção da cultura por um ou mais anos para descanso da terra;
terreno cuja cultura se suspendeu;
adj., inculto.

****sementeira directa - Técnica de produção agrícula (em inglês "no-tillage") ligada à última vaga de mecanização da agricultura. Para conhecer melhor neste sítio.

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