Sunday, September 11, 2005

Ainda sobre o Katrina

Há por aí muitas vozes de pessoas de esquerda (e não só) que revelam uma grande ignorância ao atribuirem ao desastre natural do Katrina uma nova fonte de negócio e lucro para os EUA.

É profundamente irritante, para mim que sou até bastante dos crítico do imperialismo americano, esta visão senilmente moralista e ortodoxamente dogmática dos acontecimentos que afectam os EUA. Isto são as mesmas vozes que disseram que o Iraque seria um mar de rosas do ponto de vista económico e de opurtunidades de lucro e mesmo depois de notícias se sucessivos orçamentos rectificativos, da escalada dos custos da guerra e do galopante avolumar dos défices de interno e externo americanos ainda acham que isto é tudo muito bom para os americanos.

Pois bem aqui está uma notícia que revela que nas guerras de Afeganistão e Iraque já se gastaram 300 biliões de dólares, enquanto o défice externo galopa acima dos 700 biliões de dólares.

E ainda... e ainda se calcula que com o Katrina, onde já se gastaram 62 biliões de dólares, se vá atingir um total de custos à volta de 200 biliões de dólares.

Há toda uma mentalidade na esquerda, que os EUA são uma espécie de Deuses com uma varinha mágica para desfazer um rombo adicional superior a 25% nos défices com um gesto tipo "abra cadabra" (e ainda ganhar com isso!).

Pois, então convém lembrar a esta esquerda que a economia não é um filme da Walt Disney, e estes analistas de esquerda que se dizem materialistas deviam sabê-lo melhor que ninguém.

1 Comments:

Blogger Capitão said...

Caro João

Sobre os défices:

O que eu já li sobre os défices estruturais do estado americano, que foi tanto de marxistas da Monthly review a economistas neoliberais parece-me dar uma ideia consensual: os défices são uma âncora ao pescoço do estado americano.

Não deve haver a menor dúvida em relação a isto. Nem em relação aos riscos de colapso económico que eles acarretam.

E nesse ponto tu omites um dado fundamental para compreender os défices americanos, em relação aos títulos de dívida pública: eles só podem ser emitidos e ser suportados se alguém os comprar.

A emissão dos títulos de dívida pública só funciona quando e até quando os bancos centrais dos países do mundo especialmente os bancos das actuais potências económicas do mundo comprem esses títulos de dívida.

E o estado e a própria economia americana precisam de além de ver os seus títulos de dívida comprados, que eles sejam re-investidos na economia americana.

Neste processo há um país que pode ser considerado o maior rival económico aos EUA pelo vigor do seu crescimento económico, a China, que está numa posição de grande poder em relação aos EUA pois é quem compra mais títulos de dívida. Se a China começa a trocar dólares por euros a economia americana cai de um precepício.

É claro que a China também tem a perder com desmoronar deste equilibrio ecónomico precário mas parece-me cada vez mais que a China adquire a posição chave de ter a faca e o queijo na mão.

Sobre os lucros da burguesia:

A indepencia que fazes da análise de um estado corcunda de carregar dívidas, com uma burguesia que ainda há pouco sofreu a maior série de falências da história (2000, Enron, etc) não me parece correcta. O pocesso económico dos EUA, parece-me, é um processo integrado, cheio de interconexões entre burguesia e estado, não apenas de objectivos políticos e intersses de classe, mas também (isto é mt importante) em interdependências económicas.

Neste momento muitos dos grandes colossos americanos de companhias petrolíferas, a industrias automóveis até industrias de armamento, sei lá uma General Motors, uma Halliburton até um grupo carlyle todos eles têm uma fatia mt grossa dos seus lucros em projectos do estado, isto transporta uma parte consideravel do peso e do risco das dívidas do estado sobre as cabeças desses burgueses.

Sobre o Plano Marshall:

Duas notas simples sobre esse contexto histórico: os EUA estavam de boa saúde económica e os europeus estavam mal de saúde económica. E além disso os EUA eram uma potência económica e petrolífera em ascenção (foram o maior produtor e exportador mundial de petróleo durante os anos 1950s), enquanto os europeus ainda eram um conjunto de fortes potencias coloniais com grande potencial económico.

O que eu quero dizer é que os ciclos de destruição e reconstrução de capital não funcionam da mesma maneira em todos os contextos, nem se pode comparar os EUA bons de saúde reconstruirem a Europa (para seu proveito, com empréstimos) e os EUA mal de saúde sofrerem em 2 dias prejuízos de 200 biliões de dólares no seu solo (sem nenhum papão terrorista para poder apontar o dedo).

Isto para não falar da importância estratégica da zona do Golfo do México para a produção petrolífera (que era única zona de produção em expansão em todos os EUA) que ficou não só muitissimo afectada com enormes prejuizos, mas que também vai sofrer o enorme revés de haver projectos de exploração que estavam planeados para o curto prazo que estão definitivamente postos em causa, devido há falta de estabilidade climática da região.

Um abraço,
Luis

6:57 AM  

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