Tuesday, August 02, 2005

Sobre o ensaio "Rumo a um novo internacionalismo proletário"

Olá João

O problema das minhas dúvidas entre o PCP e a Política Operária é que em nenhum dos dois círculos me parece haver um rumo e uma estratégia indubitavelmente correctos. Concordo com a crítica ao programa do PCP, não é revolucionário, e sem programa revolucionário não há partido revolucionário. Mas as críticas ao círculo da Política Operária como sectário e aventureiro preocupam-me. Boas críticas nem sempre acompanham boas soluções.

Sobre o ensaio de Ângelo novo em particular:


"2) Um objectivo estratégico. É o comunismo. Embora não o considere prioritário, precisamos de fazer algum trabalho para clarificar e dar mais realidade à nossa visão de conjunto da sociedade do futuro. Questões por resolver: Haverá uma entidade administrativa central numa sociedade comunista ou tratar-se-á de uma sociedade auto-regulada?; Caso ou enquanto exista planeamento e cálculo económico nessa sociedade, que tipo da racionalidade substituirá o funcionamento da lei do valor - o conteúdo em tempo de trabalho concreto medido contra uma unidade natural (ainda por descobrir) que meça directamente o valor de uso?"


Sei que o estado é o último inimigo e barreira a derrubar para chegar à sociedade sem classes. Mas visto no passado o seu papel como tanque ou força de choque na guerra contra o capital ("nacionalizações, expropriações dos latifundiários e capitalistas"), tenho dúvidas que não deva continuar a ser usado como ferramenta do proletariado contra a burguesia nomeadamente no contexto da ditadura do proletariado. Enfim não concordo com a "democracia avançada" mas a transição defendida pelo vosso círculo também me deixa dúvidas.

"...tendo sempre em conta que a análise histórica de uma época muito dificilmente pode ser efectuada, com rigor científico, contemporaneamente e em tempo real. A esta curta distância da linha de rebentação do presente, há sempre um forte ruído de fundo indeterminista que aconselha aqui a dúvida metódica e algum cepticismo."


Aqui não concordo, se eu não acreditar que consigo analisar a minha época histórica como posso querer transformá-la? Enfim acho que este rigorismo científico dispensa-se, é preciso arriscar o indispensável pelo menos tentando anlisar o presente o melhor que se puder.

"4) Um programa político, baseado numa teoria da transição para o comunismo. O programa político de um partido proletário digno desse nome tem que encarar de frente o derrube do sistema capitalista e estruturar-se fundamentalmente com vista a esse objectivo. É por isso que sem uma teoria da transição coerente, jamais poderemos ter senão oportunismo programático. A velha dicotomia entre o "programa mínimo" e o "programa máximo" pode ser superada por uma estratégia transicional à maneira trotskista, em que um conjunto de objectivos reformistas avançados são postos de forma a testar os limites de adaptação do sistema capitalista e convencer as massas operárias da necessidade de derrubar o sistema revolucionariamente. O problema, porém, é que sem uma teoria da transição rigorosa e coerente não é possível articular um programa transicional adequado."


Sei que o programa do PCP é muito fraco mas o que está proposto aqui, por ser algo vago, também me deixa dúvidas. "Encarar de frente o derrube do sistem capitalista" como objectivo e estruturar-se para isso, estou de acordo, algo que falta no programa do PCP, assim como falta a ditadura do proletariado (no fundo a mesma coisa). Mas apesar de algo vago este ponto ainda é o que eu mais estou de acordo.

Também estou de acordo que é preciso reconstruir um partido revolucionário. Mas acho que há ingredientes para isso tanto no PCP como na PO, o PCP ainda tem muita da prática militante (e a massa militante) que é preciso mas no campo da teoria revolucionária é a PO que está melhor. Quanto ao partido proletário ser internacional se isso significar abandonar a passividade hipócrita que temos com os nossos vizinhos revisionistas, euro-comunistas, estou plenamente de acordo. Acho que os partidos comunistas convertidos em social-democratas devem ser duramente criticados como revisionistas.

Ah e não acredito muito nessa teoria do toyotismo e pós-fordismo. Acho que essa transformação é analisada com uma importância exagerada. Não acredito que o toyotismo tenha surgido para salvar o capitalismo, acho que esse pormenor é muito menos importante que as deslocalizações empresariais da globalização neoliberal, a ofensiva militar imperialista pelos recursos estratégicos e a privatização dos últimos sectores rentáveis do estado. Acho isso do toyotismo como uma espécie de panaceia milagreira.

Um abraço
Luis Vasco

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